11.30.2006

VACINA CONTRA OS EFEITOS DA COCAINA

VACINA PODE NEUTRALIZAR DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA
29/11 - Tratamento foi concebido para desintoxicação, mas a administração em grande escala suscita problemas éticos sobre revelar a identidade de quem é vulnerável à substância. Especialistas de 35 países que compõem o Grupo Pompidou, membros do Conselho da Europa que buscam políticas e estratégias no combate às drogas, se reuniram em Estrasburgo, para discutir as perspectivas até 2010 para a área. Entre as revelações, a mais promissora foi a de que cientistas britânicos trabalham atualmente no desenvolvimento de uma vacina que neutraliza a ação da cocaína, impedindo que a droga chegue ao cérebro, através de uma molécula que se associa àquela que o tóxico cocaína libera. Com a vacina que barra a identificação do gene da dependência, a ciência abre novas perspectivas na luta contra as drogas. Ao mesmo tempo, a pesquisa abriu caminho para importantes questionamentos éticos. A perspectiva é a de "traduzir os resultados da pesquisa em práticas e políticas", disse Richard Muscat, professor de neurociência comportamental da Universidade de Malta e coordenador da plataforma de pesquisas do Grupo Pompidou. Entre as estratégias, o grupo decidiu lançar um banco de dados na internet, para atualizar as pesquisas em andamento, referentes às drogas e à dependência. O desenvolvimento da vacina contra a cocaína coincide com a escalada de seu consumo na Europa, com os 3,5 milhões de adultos que fizeram uso da substância nos últimos 12 meses, segundo números publicados na semana passada pelo Observatório Europeu de Drogas e Toxicomanias (OEDT). Mas, enquanto os cientistas a conceberam como um tratamento de desintoxicação, a tentação de administrá-la em todo mundo em caráter preventivo é grande, o que causa sérios problemas éticos, reforçou o cientista maltês. A genética também tem perspectivas promissoras. "No cérebro das pessoas dependentes, parece que um dos receptores da dopamina não funciona muito bem", assegurou Muscat. A longo prazo será possível, senão modificar esse gene da dependência, pelo menos reduzir seus efeitos. A partir daí seria possível submeter todas as crianças a testes para identificar as que seriam mais vulneráveis à dependência química e adaptar estratégias de prevenção, segundo sua predisposição genética, com o risco de "estigmatizá-las", antecipou Muscat. A sociedade atual já se defronta, no campo da prevenção, com a discussão sobre a identificação sistemática de consumidores de drogas nas escolas, como decidiu fazer o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, explicou Christopher Luckett, secretário-executivo do Grupo Pompidou. Até este momento, nenhuma pesquisa havia "demonstrado que uma política de diagnóstico em matéria de prevenção da toxicomania era eficaz", lembrou. Os riscos éticos da detecção sistemática são evidentes, na sua opinião, no que diz respeito à proteção de dados e às liberdades individuais. Diagnósticos isolados podem, no entanto, ser muito úteis no campo dos tratamentos de desintoxicação, especialmente para verificar se o paciente se adapta à prescrição, ou para alguns trabalhos que são perigosos de executar, sob os efeitos da droga. Segundo esse mesmo princípio, outras vacinas poderiam começar a ser usadas no futuro. "A partir do ano que vem, uma vacina contra a nicotina deve entrar na fase de testes", assegurou Muscat. Fonte: Estado de Minas