8.15.2010

COLESTEROL ALTO


A baixa aderência ao tratamento de doenças crônicas, como o colesterol alto (dislipidemia), é um problema mundial que aumenta sua gravidade e incrementa substancialmente os gastos com saúde pública. O Projeto CORE, desenvolvido pelo Conselho Latino-Americano para Cuidado Cardiovascular (CLACC), tem como objetivo principal analisar as razões da alta taxa de desistência ao tratamento do colesterol e suas implicações.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que, em média, a cada 5 minutos ocorre uma morte por infarto do miocárdio no Brasil. Uma vez mantida a tendência atual, estima-se que em 2040 ocorrerá uma morte a cada 47 segundos. A realidade cardiovascular no Brasil é vista como alarmante no cenário mundial. O Ministério da Saúde revela que as doenças cardiovasculares são as que mais matam no nosso país, superando qualquer outra, inclusive câncer e AIDS. No entanto, não existe, entre os pacientes e população em geral, a real percepção em relação à gravidade da dislipidemia e suas conseqüências.

"A aderência ao tratamento da dislipidemia no Brasil é muito baixa", afirma o Prof. Dr. Andrei C. Sposito, Presidente do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia. O especialista explica que o fator econômico, custo alto dos medicamentos, poderia explicar este cenário. No entanto, existem ações para popularizar o tratamento e, mesmo assim, a aderência continua baixa. "O que pode ser melhorado é a informação que chega ao paciente", diz Dr. Sposito.

A dislipidemia, doença caracterizada por elevadas taxas de colesterol no sangue, é silenciosa, ou seja, não apresenta sintomas específicos e, conseqüentemente, não representa uma ruptura concreta na rotina dos indivíduos, não sendo reconhecida nem valorizada pelos pacientes como fator de risco à ocorrência de problemas graves, como por exemplo, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (derrame). Por este motivo, a conscientização é mais difícil.

Por meio de pesquisas com pacientes e médicos, o Projeto CORE aponta que o paciente não sabe ao certo as graves conseqüências que podem advir dos "escorregões" no tratamento; faltam informações mais detalhadas que realmente motivem a adesão do tratamento e quando comparam o problema com outras doenças que trazem consigo sintomas, tendem a achar que a dislipidemia é menos grave ou que está sob controle. No geral, os pacientes acreditam que são bem sucedidos no tratamento.

Em relação à aderência, é mais comum a não adesão às mudanças no estilo de vida do que o abandono ao tratamento medicamentoso. Porém, entre os abandonos do tratamento medicamentoso os principais motivos são que os pacientes que fazem dieta se sentem bem e, assim, acreditam que podem parar com a medicação; pacientes com outras patologias associadas, cansados de tomar muitos medicamentos, elegem justamente o de colesterol para deixar de tomar; pacientes que não sentem nada e fazem o tratamento mais por pressão da família do que vontade própria e a falta de conscientização sobre a cronicidade e gravidade da dislipidemia.

Para o Dr. Sposito, a principal diferença entre os pacientes adeptos ao tratamento medicamentoso e os que abandonam é que os primeiros já foram de alguma forma sensibilizados sobre a importância dos medicamentos no controle das taxas de colesterol e as conseqüências da doença. Já os pacientes que abandonaram o tratamento acreditam, equivocadamente, que existem formas de controlar o colesterol que não a medicação.

O Diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração (InCor), Prof. Dr. Raul Dias dos Santos Filho, explica que as pessoas deixam de fazer os tratamentos e, com isso, não previnem doenças do futuro. "O Projeto CORE se propõe a entender as falhas de adesão aos tratamentos indicados", diz o especialista.

Existem três pilares para a boa adesão dos pacientes, relata o Dr. Santos. O primeiro é a educação, ou seja, conscientização do paciente e do médico em relação ao tratamento de longo prazo; a disponibilidade do remédio e, por fim, programas de monitoramento e estímulo para saber se o paciente está se tratando corretamente.

"É necessário desmistificar a idéia de que o colesterol controlado é sinônimo de cura", complementa o Dr. Sposito. O tratamento deve ser mantido a longo prazo

Colesterol alto também pode afetar as crianças

As mais gordinhas ou aquelas com histórico familiar do problema correm risco maior
POR JOÃO RICARDO GONÇALVES

Rio - Quando se fala em pessoas com colesterol alto, a imagem que vem à cabeça é a de adultos de meia idade, engravatados e estressados. Cada vez mais, entretanto, os médicos alertam para o fato de que o problema pode estar em pacientes com o perfil bem diferente: as crianças. E não só as mais gordinhas correm risco.

Júlia, 5 anos, tem alimentação balanceada para garantir a saúde | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O DiaAlertas sobre o tema foram lançados recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que avisou que 43 milhões de crianças em idade pré-escolar sofrem de obesidade ou sobrepeso, condição que gera riscos à saúde durante a vida inteira. Segundo o Instituto do Coração (Incor), cerca de 10% das crianças brasileiras têm taxas de colesterol altas.

De acordo com a coordenadora dos cursos de Nutrição do Complexo Educacional FMU (SP), Bernadete Azevedo, apesar de o sobrepeso ser indicativo de que algo pode estar errado, os pais devem estar atentos também a outros fatores.

“Níveis de colesterol alterados não provocam modificações físicas. Os pais devem procurar o pediatra do filho como forma de prevenção, quando eles próprios apresentam dislipidemias (níveis elevados ou anormais de lipídios ou lipoproteínas no sangue) ou antecedentes familiares para doenças cardiovasculares. Ou quando a criança tem hábitos alimentares inadequados e não pratica atividades físicas.”

Especialista em nutrição na infância e adolescência, Bernadete lembra a importância de os pequenos consumirem frutas e vegetais diariamente. “Fast food e salgadinhos são fontes de colesterol. A ação antioxidante de frutas e vegetais reduz a oxidação de alimentos gordurosos, além da ação das fibras, que ‘arrastam’ parte da gordura para as fezes e com isso, previnem o aumento do colesterol”,explica .

Mãe de Julia, 5 anos, e de Laura, 1, Daniela Neves faz questão de manter alimentação ‘colorida’ no prato das filhas. “Meu marido já apresentou alterações no colesterol. Por isso, procuro sempre balancear as refeições delas, incluindo frutas e vegetais”, conta.

“Basicamente, deve-se diminuir o consumo de gorduras saturadas, que são encontradas em alimentos de origem animal, industrializados e embutidos, como presuntos, salsichas, linguiças, etc”, diz Bernadete Azevedo, lembrando que também é importante estabelecer horários para as refeições.

Problemas cardíacos: o grande perigo

O colesterol é uma molécula similar à gordura, que age na composição da membrana que envolve as células, essencial para a fabricação de hormônios e na composição da vitamina D, necessária para os ossos e para o crescimento. Obtido nos alimentos de origem animal ou produzido pelo fígado, ele circula por todo o corpo, mas não é solúvel no sangue.

Problemas podem ocorrer, especialmente quando se ingere alimentos com colesterol em demasia, como carnes gordas e ovos. O excesso se deposita nas artérias, formando placas que podem endurecê-las e entupi-las, o que pode gerar problemas cardiovasculares.

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