1.10.2013

FIM DAS PICADAS

Estudo sobre insulina pode pôr fim às injeções

Pesquisa também aumenta chances de produção de medicamento mais estável e resistente

AFP

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Pesquisadores conseguiram decifrar o mecanismo de fixação da insulina em seu receptor celular, comparado a "um aperto de mãos molecular", uma descoberta que pode ser crucial para milhões de diabéticos em todo o mundo.

Os trabalhos, publicados nesta quinta-feira na revista Nature, permitem conhecer melhor o funcionamento da insulina, hormônio que retém o açúcar do sangue para metabolizá-lo e transformar em energia.

Ao estabelecer um modelo do hormônio fixado em seu receptor (uma proteína) graças a um acelerador de partículas, "mostramos que a insulina e seu receptor se modificam graças a uma interação", destacou Mike Lawrence, professor associado do Walter and Eliza Hall Institute de Melbourne.

"Um fragmento de insulina se desloca e as partes fundamentais do receptor vão ao encontro do hormônio da insulina. Isso pode ser chamado 'um aperto de mãos molecular'", explicou.

Seu laboratório fez esta descoberta em associação com a Case Western Reserve, da Universidade de Cleveland (Ohio), com a Universidade de Chicago, a Universidade de York (Grã-Bretanha) e o Instituto de Química Orgânica e Bioquímica de Praga.

"Agora podemos utilizar esses conhecimentos para elaborar novos tratamentos com insulina mais eficazes", acrescentou Lawrence.
Milhões de pacientes podem, por exemplo, esperar uma importante melhoria de sua qualidade de vida graças ao fim das injeções diárias de insulina.

O estudo também traz esperança de que nos países emergentes poderia ser produzida uma insulina mais estável que resista a temperaturas elevadas sem refrigeração, assim como portadores do Mal de Alzheimer e de certos tipos de câncer associados à resistência à insulina.

A destruição de células beta produtoras de insulina leva à diabetes de tipo 1, enquanto problemas em seu funcionamento provocam a forma mais corrente da doença, a diabetes de tipo 2 (DT2).

A diabetes DT2 afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo, 32 milhões na Europa e 3 milhões na França. Este número poderá ser duplicado nos próximos anos devido à epidemia de obesidade e a vida sedentária acompanhada de alimentação rica em gordura e açúcar. Alguns fatores genéticos também favorecem o aparecimento da doença.

"Nós ainda não temos um tratamento para a diabetes, mas descobertas como a da fixação da insulina nos dão esperança de estarmos mais próximos", declarou Nicola Stokes, do Conselho Australiano de Diabetes.
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1. O QUE REPRESENTA O DESENVOLVIMENTO DA INSULINA INALÁVEL PARA O TRATAMENTO DO DIABETES?
A insulina inalável é um novo marco no tratamento do diabetes, porque introduz uma nova forma de administrar o medicamento. É a primeira vez que se utiliza outra via que não a injetável. A descoberta da insulina e de como usá-la em diabéticos, em 1922, possibilitou a sobrevivência dos portadores de diabetes tipo 1, que morriam por falta de medicamento. Até agora, as preparações de insulina eram injetáveis, porque se trata de um tipo de substância destruída pelos sucos gástricos, que a inativa, impossibilitando seu uso por via oral. As insulinas eram produzidas a partir do pâncreas de animais. Hoje, quase só se usa a insulina fabricada por técnicas de engenharia genética ou de DNA recombinante, quando é modificado a estrutura dos genes de bactérias, por exemplo, para que seja criada a substância com características iguais à insulina produzida pelo nosso organismo.
2. A NOVA APRESENTAÇÃO SUBSTITUIRÁ A INSULINA INJETÁVEL?
A insulina inalável tem o tempo de ação intermediário ao das insulinas rápidas e ultra-rápidas e só deve ser usada antes das refeições, fazendo com que a sua absorção coincida com a dos alimentos. Assim, evitase o aumento exagerado da glicemia após a refeição. A maior parte dos portadores de diabetes, se usar insulina inalável, deverá fazê-lo junto com outra insulina (intermediária ou plana) ou com medicamentos antidiabéticos de uso oral. Os portadores de diabetes tipo 1 quase sempre precisam associar dois tipos do medicamento (insulina intermediária ou plana de longa duração com insulina rápida ou ultra-rápida).
3. QUAIS OS BENEFÍCIOS DA INSULINA INALÁVEL?
Substituir injeções por inalação pode ser um alívio. Algumas pessoas precisam tomar de quatro a cinco injeções por dia e, com a insulina inalável, o número pode cair para uma injeção — a de insulina de longa duração. Já a inalável apresenta-se sob a forma blister, espécie de cápsula que, colocada no inalador (similar aos de bronquite), é aspirada pela boca e transformada em uma “nuvem”. Daí, entra para os pulmões, é absorvida pelos capilares, abundantes nesse local, e parte para a circulação geral, atuando como qualquer insulina. Porém, é preciso lembrar que a injeção de insulina, hoje em dia, é quase indolor, as agulhas são muito confortáveis e o medicamento pode ser aplicado com canetas próprias, fáceis de manusear e de carregar. Além disso, o custo da nova insulina pode ser proibitivo para muitos pacientes, considerando que não há cobertura por parte do Sistema Único de Saúde (SUS). [Nota da Redação: se o paciente comprar o medicamento, o custo pode variar entre R$ 50 e R$ 60. Os análogos de insulina mais modernos sobem para R$ 250 a R$ 300. A nova tecnologia da insulina inalável, equivalente ao análogo, custará cerca de R$ 760 , o kit completo, e R$ 560, o refil].
4. EXISTEM CONTRA-INDICAÇÕES?
A insulina inalável não é recomendada para os fumantes. Nesses pacientes, a velocidade de absorção do medicamento é acelerada e há maior risco de hipoglicemia. Também, não está indicada para portadores de doenças pulmonares, como asma ou bronquite crônica. Crianças e mulheres grávidas também não devem, por enquanto, usá-la porque ainda não há estudos para avaliar a segurança do medicamento nesses grupos.
5. E OS CUIDADOS QUE DEVEM SER TOMADOS ANTES DO USO?
Qualquer pessoa que pretende usar esse tipo de insulina precisa realizar a espirometria (para avaliar a capacidade do pulmão). Esse exame deve ser feito antes do tratamento e em intervalos regulares, durante o uso, para certificar que não há prejuízo para o pulmão. No início, há uma pequena piora na função pulmonar, que tende a se estabilizar. Se o caso se agravar, o medicamento deverá ser suspenso.
6. QUAL A CONSEQÜÊNCIA DE SE ADIAR O TRATAMENTO COM A INSULINA?
O tratamento incorreto da hiperglicemia, assim como o controle insuficiente da pressão arterial e dos valores de colesterol têm graves conseqüências para o portador de diabetes. Dieta inadequada, falta de exercícios físicos, falha no uso de medicamentos e também não usar insulina, quando necessário, podem resultar em complicações crônicas, que são relacionadas ao controle insuficiente do diabetes. Quanto à insulina, é comum que muitos pacientes, e muitos médicos, adiem o seu uso por medo de hipoglicemia ou do desconforto da injeção.
7. TODOS OS DIABÉTICOS PRECISAM USAR INSULINA?
Há vários tipos de diabetes. Os mais importantes são os diabetes tipo 1 e o tipo 2. O tipo 1 acomete pessoas jovens, especialmente crianças e adolescentes, e se caracteriza pela deficiência grande de insulina, que se torna necessária por toda a vida. O diabetes tipo 2 é mais comum nas pessoas de meia idade, por um defeito na ação da insulina (resistência à sua ação), determinada geneticamente ou induzida por obesidade e sedentarismo. Nestes pacientes, o pâncreas passa a produzir mais insulina para suprir as suas necessidades. Se a capacidade secretora de insulina diminuir, o diabetes se manifesta. A doença é progressiva e a deficiência se agrava com o tempo. Pacientes que no início controlavam bem os sintomas com dieta, exercícios e medicações orais, passam a necessitar de insulina.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL Márcia Nery, doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e supervisora do Serviço de Diabetes do Hospital das Clínicas (FMUSP)

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