7.04.2013

Os autores brasileiros contemporâneos são mais estudados no exterior do que no Brasil

Contemporâneos brasileiros pautam mais estudos fora que dentro do país


Os pesquisadores envolvidos no levantamento do Itaú Cultural, em coletiva na Flip (Foto de Simone Costa)
Simone Costa
Os autores brasileiros contemporâneos são mais estudados no exterior do que no Brasil. É o que apontou uma das pesquisas apresentadas pelo painel Movimentos Atuais da Literatura Brasileira, promovido pelo Itaú Cultural, nesta quarta-feira em Paraty, onde acontece a Flip 2013. “Trabalhar com os cânones da literatura brasileira é o meio mais fácil de conseguir recursos para a pesquisa no Brasil”, explicou o professor de literatura comparada, João Cezar de Castro Rocha, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), um dos autores das pesquisas sobre o movimento da produção literária nacional.
Para chegar a essa conclusão, ele mapeou 244 pesquisadores da literatura brasileira no exterior e comparou com os dados levantados pela doutoranda em literatura da Universidade de Brasília (UnB) Laeticia Jensen, que investigou o tema de estudo de 2.176 doutores dedicados à literatura nacional. No exterior, entre os dez autores mais citados pelos estudiosos, dois estão vivos, Chico Buarque e Milton Hatoum, que aparecem nas oitava e nona posições, respectivamente, atrás de Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Mário de Andrade. No Brasil, o autor vivo mais citado é o amazonense Hatoum, mas ele aparece apenas na 14ª posição (confira a lista abaixo).
Quando se leva em conta em termos comparativos o número de citações dos autores vivos no Brasil e no exterior, também fica claro que a literatura brasileira contemporânea é mais estudada lá fora do que aqui. Em universidades do exterior, Chico Buarque, Milton Hatoum e Rubem Fonseca, são os três contemporâneos mais citados, com cerca de 60 citações cada um. Já no Brasil, os três principais são Milton Hatoum, Rubem Fonseca e Manoel de Barros, cada um com cerca de duas dezenas de citações. “Apesar de aparecerem artigos, os autores contemporâneos não prevalecem em estudos de fôlego ou teses. Além de facilitar o acesso a bolsas quando o tema é um cânone da literatura nacional, é difícil para um pesquisador ser o primeiro a estudar um autor porque não há com quem dialogar”, explica Laeticia Jensen.
Ocorre ainda uma concentração de estudiosos da escrita brasileira nos Estados Unidos. Dos 244 participantes da pesquisa, 93 estão nos Estados Unidos e cinquenta desses nasceram em países que não o Brasil. “Esses pesquisadores apontaram a necessidade de uma política pública de incentivo para que haja a ampliação da tradução de autores brasileiros, a criação de cátedras dedicadas ao tema em universidades no exterior e a oferta de bolsas para pesquisadores residentes”, disse o professor Castro Rocha.
No Brasil – A partir de citações na Plataforma Lattes – onde estão disponibilizados os currículos dos pesquisadores das universidades brasileiras –, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a doutoranda Laeticia Jensen catalogou 477 autores.  Entre os cinco nomes mais citados, estão Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Mario de Andrade. Mesmo que o autor vivo mais citado, Milton Hatoum, só apareça na 14ª posição com uma grande diferença em termos de número de citações – 22 vezes contra 122 de Machado de Assis. Além de figurarem nas primeiras posições nomes consagrados da literatura nacional, o estudo também mostrou que os autores homens são mais estudados que as mulheres: 78,4% dos escritores citados são homens e apenas 21,6%, mulheres.
Apesar da presença exígua de nomes contemporâneos na academia nacional,  a literatura brasileira está se profissionalizando cada vez mais. É o que pensa o escritor Luiz Ruffato, presente no painel.  “Há dez anos, quando deixei o jornalismo para viver apenas de literatura, eu era uma raridade. Hoje, sou apenas mais um”, disse. “Consigo viver de literatura. Ainda que não viva de direitos autorais. Mas há um sistema de cachês para participação em feiras e festivais, participação em júri de concursos, convites para debates em universidades que querem ouvir o autor contemporâneo. Tudo isso permite ao autor viver da literatura”, completou. O Brasil, segundo o Circuito de Feiras do Livro da Fundação Nacional do Livro, conta atualmente com 261 feiras ou encontros literários anuais.
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Autores brasileiros mais citados em pesquisas nacionais
1. Machado de Assis
2. Guimarães Rosa
3. Clarice Lispector
4. Graciliano Ramos
5. Mário de Andrade
6. Carlos Drummond de Andrade
7. Lima Barreto
8. João Cabral de Melo Neto
9. Murilo Mendes
10. José de Alencar
11. Monteiro Lobato
12. Manuel Bandeira
13. Oswald Adrande
14. Milton Hatoum
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Autores vivos mais citados em pesquisas nacionais
1. Milton Hatoum
2. Rubem Fonseca
3. Manoel de Barros
4. Chico Buarque
5. João Gilberto Noll
6. Adélia Prado / Ferreira Gullar / João Ubaldo Ribeiro / Silviano Santiago
7. Ana Miranda / Bernardo Carvalho / Lya Luft / Lygia Fagundes Telles
8. Ariano Suassuna / Dalton Trevisan / Lygia Bojunga Nunes / Nélida Piñon / Raduan Nassar
9. Augusto de Campos / Sérgio S’Antanna
10. Francisco Alvim /Marina Colasanti
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Autores brasileiros mais citados em pesquisas estrangeiras
1. Machado de Assis
2. Clarice Lispector
3. Guimarães Rosa
4. Jorge Amado
5. Carlos Drummond de Andrade
6. Graciliano Ramos
7. Mário de Andrade
8. Chico Buarque
9. Milton Hatoum
10. Oswald de Andrade
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Autores vivos mais citados em pesquisas estrangeiras
1. Chico Buarque
2. Milton Hatoum
3. Rubem Fonseca
4. Antonio Cândido
5. Bernardo Carvalho
6. Roberto Schwarz
7. Luiz Ruffato
8. Silviano Santiago
9. João Gilberto Noll
10. João Ubaldo Ribeiro
11. Raduan Nassar
12. Paulo Coelho
13. Alfredo Bosi
14. Lygia Fagundes Telles
15. Ferreira Gullar

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