8.01.2013

Pais mudam rotina para cuidar de filhos pequenos

Dono de restaurante colocou berço no escritório para cuidar de bebê.
Sociólogo explica que mudança iniciou com entrada da mulher no mercado.


O dono de restaurante Guilherme Rafaini colocou um berço para cuidar da filha Daniela durante o expediente (Foto: Daniel Silva) 
O dono de restaurante Guilherme Rafaini colocou um berço no escritório para cuidar da filha Daniela durante o expediente (Foto: Daniel Silva/Arquivo Pessoal)
No escritório do restaurante de Guilherme Rafaini Silva, mesas de trabalho, computadores e materiais de escritório dividem espaço com um berço recém-instalado. O cantinho infantil tem móbile e mural com fotos da pequena Daniela, de pouco mais de 4 meses, que passou a acompanhar o pai na rotina da administração do restaurante desde que a mãe voltou ao trabalho após o parto. “Desde que ela nasceu eu quis aprender a fazer tudo, trocar fralda, dar banho”, conta o pai. Morador de Mogi das Cruzes (SP), Guilherme faz parte do grupo de pais que fazem questão de dividir com as mulheres todas as tarefas na hora de cuidar dos filhos pequenos.
Pai se preparou para cuidar da filha na volta da esposa ao trabalho em Mogi. (Foto: Thais Oliveira/Arquivo Pessoal) 
Guilherme se preparou para cuidar da filha na volta da esposa ao trabalho em Mogi
A esposa de Guilherme, Stefanie Rafaini, trabalha como pesquisadora química e antes de voltar ao trabalho fez um “intensivão” com o marido sobre os cuidados com a bebê. “Ela comprou o bercinho para ficar no escritório e me ajudou a acostumar a Daniela com a mamadeira uma semana antes de voltar ao trabalho”, conta Guilherme. A menina é a primeira filha do casal.
O dono de restaurante conta que aprender a cuidar de um bebê foi mais fácil do que imaginava. “Tinha aquele paradigma de que é difícil, mas está super tranquilo, não estou tendo muita dificuldade”, conta. Guilherme só precisou de mais atenção para pegar o jeito na hora do banho. “Aperfeiçoar o banho foi mais difícil, você fica meio desengonçado, mas fui bem supervisionado”, brinca. A bebê fica com o pai durante o horário de funcionamento do restaurante self-service, das 8h às 15h.
A mãe se sente bem segura para voltar ao trabalho. “Antes de casar ele já dizia que queria aprender tudo. É um ótimo pai, diz que no futuro quer pentear e fazer trança no cabelo dela, ser um pai confidente”, conta Stéfanie.
Jimenni trabalha como fotógrafa e deixa o pequeno Giovanni aos cuidados do pai, Rodolfo quando vai trabalhar (Foto: Jimenne G. Della Torre)Jimenni trabalha como fotógrafa e deixa o pequeno Giovanni aos cuidados do pai quando vai trabalhar (Foto: Jimenne G. Della Torre/Arquivo Pessoal)
Rodolfo conta que já dominou os truques de cuidar do filho pequeno (Foto: Jimenne G. Della Torre) 
Rodolfo conta que já dominou os truques de cuidar
do filho pequeno
Alguns pais até tentam ajudar, mas esbarram no ciúmes das mães, que preferem cuidar de tudo sozinhas. É o caso da fotógrafa Jimenne Gomes Della Torre. Mãe de um menino de 5 meses chamado Giovanni, ela admite que só divide os cuidados com o pequeno  quando vai trabalhar. “Sou bastante ciumenta. Gosto muito de fazer tudo, mas meu marido assume quando vou cobrir eventos nos fins de semana”, conta.
Pai de Giovanni, o analista de produtos Rodolfo Cesar Della Torre assume com naturalidade tarefas como trocar fraldas, dar banhos... “Eu tomo conta nos fins de semana e à noite, durante a semana, quando volto do trabalho”, comenta.
Interpretar o bebê
O publicitário Rafael Mangifesti é minucioso nos cuidados com a pequena Maria, que tem um mês. “Eu ajudo em tudo, até posiciono a bebê no colo dela para a mãe amamentar. Tem as limitações, a gente precisa aprender a interpretar. Às vezes você faz um carinho e a bebê não gosta”, comenta.

Cecilia tem apenas 23 dias e mudou completamente a rotina do pai, Rafael, e da mãe, Cecilia (Foto: João Henrique Santo) 
A chegada de Maria mudou completamente a rotina do pai, Rafael, e da mãe, Cecilia.
Rafael não faz nenhuma cerimônia quando chega em casa para sua segunda jornada. “Eu chego do trabalho já pego ela no colo, coloco ela pra dormir um pouco. Quando chega a hora de trocar, eu já quero trocar. Tem essa coisa de que a mulher está ocupando o espaço do homem, a gente tem que se adaptar”, afirma Rafael.
Rodolfo ajuda Cecilia sempre que está em casa já que a companheira se recupera da cesárea (Foto: João Henrique Santo) 
Rafael ajuda Cecilia sempre que está em casa.
O pai de primeira viagem diz que o dia a dia já está dominado. “A minha dificuldade é o receio de ela ter algum problema de saúde, porque nas tarefas normais a gente já pegou bastante prática. Já consigo ficar bem à vontade. Consegui dar banho nela debaixo do chuveiro, ela ficou super calma no chuveiro. Quando o bebê está bem, tudo bem”, conta.
A mãe de Maria, Cecilia Augusto Ribeiro Matsuo, que trabalha como professora, diz que a ajuda do companheiro é muito importante, pois ela está em recuperação da cesárea. “Ele que dá banho e ele que acorda à noite. Ainda tenho dificuldade para me abaixar por causa dos pontos, a gente não fica bem disposta. A maior dificuldade é interpretar o choro, porque às vezes ela chora e está tudo bem. Aí é hora dele pegar no colo até ela pegar no sono”, explica
Mudança de hábitos
Casais como estes são cada vez mais comuns porque refletem uma mudança na cultura, segundo o sociólogo Afonso Pola. “É uma mudança de comportamento por causa da mulher no mercado de trabalho. Até os anos 70 os papeis sociais entre homens e mulheres eram muito mais definidos. Era o homem o provedor econômico e a mulher gestora do ambiente doméstico. Quando a mulher foi para o mercado, além de trabalhar, passou a ter uma dupla jornada em casa. Isso fez com que a rotina mudasse e os homens passaram a ajudar no cuidado dos filhos também”, explica.

“Uma parte significativa dos homens admite: a partir do momento que a mulher trabalha, também contribui no orçamento da família. É justo que a mulher tenha as tarefas divididas, entre elas cuidar dos filhos”, continua Pola.
Para o especialista, a relação entre homem e mulher é de interdependência. “O papel social do homem e da mulher são complementares. Toda vez que você altera um desses papeis sociais, inevitavelmente o outro se altera também”, conclui.

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