10.23.2013

HIV ganhou diversidade genética nos últimos dez anos

Testes de universidades paulistas com 51 crianças mostram mudanças no vírus

Pesquisa mostra necessidade de aprimorar diagnósticos

Renato Grandelle

Vírus: Micrografia eletrônica do HIV-1, o mais comum no mundo
Foto: Latinstock
Vírus: Micrografia eletrônica do HIV-1, o mais comum no mundo Latinstock
RIO - Um estudo com crianças e adolescentes paulistas mostra que o perfil do HIV está mudando. A presença do vírus em 51 jovens é, hoje, diferente da observada em levantamentos anteriores, feitos com adultos. A nova cara da epidemia da Aids exigirá adaptações em coquetéis e em pesquisas que tentam desenvolver uma vacina contra a doença.
O avanço tecnológico foi fundamental para que pesquisadores da USP e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificassem as novas divisões do vírus. O HIV-1, o mais comum no mundo, divide-se em cinco grupos. Dentro destes há vários tipos, e suas recombinações provocam um número crescente de subtipos.
— O sequenciamento completo do genoma do HIV é uma conquista recente — lembra Sabri Saeed Mohamed Ahmed Al-Sanabani, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP. — Com esta limitação tecnológica, não era possível observar a capacidade de evolução do vírus.
Em 2011, um estudo realizado no Brasil com 113 homens soropositivos com idade média de 31 anos constatou que 80% estavam infectados com o subtipo B. Agora, na pesquisa com as crianças, este índice foi reduzido para 52,4%. O subtipo BF1 mosaico, por sua vez, está presente em 40% dos jovens. Em adultos, sua presença era insignificante.
Mudanças em 10 anos
Como o novo levantamento foi realizado entre pacientes de até 11 anos, acredita-se que, na última década, os tipos de HIV presentes no Brasil ganharam diversidade genética.
— Ainda precisamos aumentar nossas amostras — anuncia Al-Sanabani. — As 51 crianças soropositivas estudadas estavam submetidas a um tratamento muito intenso. Nestes casos, a concentração do vírus diminui e é difícil sequenciar todo o genoma do HIV. Conseguimos fazer isso em apenas quatro pacientes.
Todos os casos analisados no estudo eram de infecção durante a gestação, parto ou amamentação. Por isso, a próxima etapa será estudar a diversidade genética do HIV em gestantes soropositivas.
— Queremos trabalhar com a doadora do vírus e entender como ele circula — explica Al-Sanabani. — É importante criar um banco de dados mostrando quantos tipos de HIV podem estar presentes no corpo. Assim, conseguiremos aprimorar os diagnósticos.
O estudo da USP e Unifesp foi publicado ontem na revista “PLoS One”.

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