11.13.2013

Mudança no clima

Conferência da ONU sobre mudança climática começa em Varsóvia

Encontro busca definir acordo sobre redução de emissão de gases.
Conferência, que reúne mais de 190 países, vai até 22 de novembro.

A 19ª Conferência do Clima da ONU começou nesta segunda-feira (11) em Varsóvia, na Polônia. O encontro tem o objetivo de preparar um acordo global sobre a redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. O texto final deve ser aprovado em 2015, em Paris, e entrar em vigor a partir de 2020.
A conferência, que reúne mais de 190 países até o dia 22 de novembro, pretende conter o aumento da temperatura no planeta, que pode chegar a 5° C extras até o fim do século 21 se a comunidade internacional não adotar medidas para impedir as mudanças climáticas.
Tufão
Segundo a secretária-executiva para o clima da ONU, Christiana Figueres, a reunião começa com "o peso sobre nossos ombros de muitas realidades que nos devem fazer refletir, como o impacto devastador do tufão Haiyan", que deixou pelo menos 10 mil mortos nas Filipinas.

"As próximas gerações travarão uma batalha imensa, e o que está em jogo aqui neste estádio não é um jogo", afirmou Christiana, em referência ao local de Varsóvia onde acontece a rodada de negociações, segundo informações da agência AFP.
"Não há duas equipes, mas toda a humanidade. Não há vencedores ou perdedores. Ou todos ganhamos ou todos perdemos", advertiu.
A delegada das Filipinas, Alicia Ilaga, lembrou, por sua vez, que durante a conferência anterior da ONU sobre o clima, realizada no fim de 2012 em Doha, no Qatar, as Filipinas já haviam sido atingidas por outro tufão de categoria 5, o Bopha.
"E agora estamos em Varsóvia. Está escuro, faz frio e há tristeza não apenas em Varsóvia, mas também em meu país (...) O que mais podemos pedir nesta conferência a não ser fazer as negociações avançarem e transformar as promessas em atos?", questionou Alicia durante uma coletiva de imprensa.
Outro delegado filipino, Naderev Sano, declarou-se em greve de fome durante 12 dias em solidariedade a seus compatriotas, numa tentativa de pressionar seus colegas para que ocorram avanços.
Os meteorologistas ainda precisam vincular formalmente o aquecimento global à ocorrência de tufões como o que devastou as Filipinas, mas eles esperam uma incidência crescente de fenômenos climáticos extremos, devido ao aumento das temperaturas dos oceanos.
"Existe uma tendência de aquecimento (dos oceanos) e o aumento na intensidade de furacões é parte do risco", afirmou Herve Le Treut, professor universitário em Paris e climatologista.
Em setembro, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), atendendo a uma demanda das Nações Unidas para fazer avaliações científicas sobre os riscos das mudanças climáticas, concluiu em um relatório que é 'virtualmente correto que a superfície do oceano esquentou entre 1971 e 2010'.
Estima-se que as temperaturas tenham aumentado em cerca de 0,1 grau Celsius por década até 75 metros de profundidade e mais ainda a uma profundidade um pouco maior.
Os meteorologistas acreditam que a superfície dos oceanos também tenha ficado mais quente na primeira metade do século XX, mas ainda se discute se o aumento das temperaturas dos oceanos é causada pelo homem ou por mudanças naturais no planeta.
Para Fabrice Chauvin, cientista do Centro Nacional de Pesquisa Meteorológica francês, não existiam satélites para rastrear ciclones antes dos anos 1970, o que dificultava a realização de estudos detalhados sobre o fenômeno.
No entanto, em 2007, o IPCC alertou ser 'provável' que ciclones se tornassem mais intensos e provocassem mais chuvas do que antes.
Negociações devem ser tensas
A comunidade internacional quer fixar como objetivo que a temperatura não suba mais de 2° C em relação ao que era registrado antes da era pré-industrial. Se nada for feito, a temperatura pode aumentar 5° C até o fim do século e os fenômenos extremos se multiplicarão, lembraram em setembro os especialistas do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC).

A relação entre ciclones e mudanças climáticas não é unanimidade entre os especialistas, mas eles não descartam que ocorram fenômenos cada vez mais extremos ligados ao aumento das temperaturas dos oceanos.
A conferência de Varsóvia inicia dois anos de negociações que devem terminar em 2015 em Paris, com um acordo global e ambicioso para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que provoca o aumento da temperatura.
Até agora, o único texto que limita as emissões desses gases é o Protocolo de Kyoto, mas ele afeta apenas os países industrializados – com exceção dos Estados Unidos, que não o ratificaram – e cobre apenas 15% das emissões totais.
O futuro acordo, que substituiria o Protocolo de Kyoto em 2020, também incluiria os Estados Unidos e os grandes países emergentes, como a China, o principal poluente do mundo. As discussões não devem ser fáceis, sobretudo no que diz respeito ao alcance dos compromissos legais que o texto contemplará ou ao compromisso das economias emergentes, que também querem ter direito ao desenvolvimento e alertam para a responsabilidade dos países industrializados nas mudanças climáticas.
Christiana Figueres convocou as delegações a "esclarecerem os elementos do novo acordo que modelará as agendas climáticas, econômicas e de desenvolvimento após 2020" e a avançarem no dossiê da ajuda financeira para que os países do Hemisfério Sul possam se adaptar às mudanças climáticas.
Os países do Norte prometeram US$ 100 bilhões (R$ 231 bilhões) de ajuda até 2020, mas as nações do Sul ainda não viram nada e temem que isso se trate de promessas vazias.
Na segunda semana de negociações em Varsóvia, se reunirão os ministros dos países representados para tentar produzir um texto que será adotado ao fim da conferência. A próxima reunião da ONU sobre o clima irá ocorrer no fim de 2014 em Lima, no Peru, um ano antes da de Paris.
O ministro do Meio Ambiente da Polônia, e presidente da COP 19, Marcin Korolec fala durante a abertura da conferência.  (Foto: AFP Photo/Janek Skarzynski)O ministro do Meio Ambiente da Polônia, e presidente da COP 19, Marcin Korolec fala durante a abertura da conferência. (Foto: AFP Photo/Janek Skarzynski)
 Manifestantes da organização contra a fome Oxfam usam máscaras de Angela Merkel, Marack Obama, François Hollande e Shinzo Abe; protesto ocorreu em Varsóvia, que sedia a 19ª Conferência do Clima da ONU a partir desta segunda. (Foto: Al Kinley/Oxfam/AFP Photo) Manifestantes da organização contra a fome Oxfam usam máscaras de Angela Merkel, Marack Obama, François Hollande e Shinzo Abe; protesto, que chama a atenção sobre os efeitos das mudanças climáticas na produção de comida, ocorreu em Varsóvia, que sedia a 19ª Conferência do Clima da ONU a partir desta segunda-feira (11). (Foto: Al Kinley/Oxfam/AFP Photo)
 

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