11.18.2013

STF submete Genoino à ‘segunda tortura’

Para governador Tarso Genro o  julgamento do processo que condenou Genuíno foi politização unilateral do poder judiciário para fazer ‘revanche’ aos derrotados na política

Flávio Ilha
PORTO ALEGRE – O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, publicou no final de semana um artigo no site da revista "Carta Maior" em que faz acusa  o Supremo Tribunal Federal (STF) pelo julgamento de exceção e acusa o tribunal de ter obedecido a um “final previamente determinado, exigido pela grande mídia”.
Tarso diz que o ex-presidente do PT, José Genoino, foi torturado pela segunda vez em razão da condenação e prisão como réu do processo. Segundo o artigo, a sentença do não encerra o caso mas reabre-o em outro plano: o da politização unilateral do poder judiciário para proporcionar uma “revanche” aos derrotados na política.
“José Genoino foi brutalmente torturado na época da ditadura e seus torturadores continuam aí, sorridentes, impunes e desafiantes, sem qualquer ameaça real de responderem, na democracia, pelo que fizeram nos porões do regime de arbítrio, abrigados até agora por decisões deste mesmo Tribunal [o STF] que condena sem provas militantes do PT”, escreveu o governador, em referência à interpretação do Supremo, de 2010, que estendeu a anistia aos agentes do regime militar que praticaram tortura e assassinatos.
A assessoria de imprensa do governador disse que Tarso não iria se manifestar pessoalmente sobre o caso e tudo o que ele gostaria de dizer acerca do mensalão “está escrito no artigo”.
No texto publicado pela Carta Maior, Tarso também defendeu o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, sobre quem diz conhecer “muito pouco” no plano pessoal. “José Dirceu coordenou a vitória legítima de Lula, para o seu primeiro mandato, e as suas ‘contrapartes’, que compraram votos para reeleger Fernando Henrique (suponho que sem a ciência do Presidente de então), estão também por aí, livres e gaudérios”, criticou no artigo.

O governador, entretanto, faz questão de ressalvar que não faz nenhuma alusão sobre a “integridade moral” ou “honestidade intelectual” do poder judiciário, mas à influência de setores “conservadores” e “reacionários” nas decisões do órgão “sem desconstituir a ordem jurídica formal, mantendo mínimos padrões de legitimidade”.
O texto do governador não propõe nenhum tipo de controle social sobre a mídia, posição que Tarso defende com frequência, mas destaca o papel da imprensa para, segundo ele, “produzir a convicção pública” sobre a importância das condenações para a democracia.
“Lembro: antes que fossem produzidas quaisquer provas os réus já eram tratados diuturnamente como ‘quadrilheiros’, ‘mensaleiros’, ‘delinquentes’, corruptos  não somente pela maioria da grande imprensa, mas também por ilustres figuras originárias dos partidos derrotados nas eleições presidenciais e pela banda de música do esquerdismo, rapidamente aliada conjuntural da pior direita nos ataques aos Governos Lula. Formou-se assim uma santa aliança, antes do processo, para produzir a convicção pública (de) que só as condenações resgatariam a ‘dignidade da República’, tal qual ela é entendida pelos padrões midiáticos dominantes”, opinou.
O artigo teve mais de 2,1 mil compartilhamentos pelo Facebook e 400 comentários via Twitter até esta manhã – a postagem é de sábado, 16 de novembro – e aparece como o mais lido da publicação. A maioria dos comentários se limita a distribuir o conteúdo, mas muitos internautas criticam a opinião de Tarso e acusam o governador de defender os condenados do mensalão e de propor censura à imprensa.
O ex-presidente do PT, José Genoino, retuitou o artigo em seu perfil na rede social ainda na tarde de sábado, depois de se apresentar à Polícia Federal para cumprir pena de seis anos e 11 meses em regime semiaberto.
O deputado estadual Adão Villaverde (PT-RS) também retuitou o artigo e postou a seguinte mensagem: “Valeu, meu governador!”. O deputado federal Doutor Rosinha (PT-PR) igualmente compartilhou o artigo e criticou o papel da mídia na sentença do mensalão.
Vários outros parlamentares do partido retuitaram o conteúdo publicado no site Carta Maior, entre eles Paulo Teixeira (PT-SP) e Rogério Correia (PT-MG). O vereador Valter Nagelstein, do PMDB de Porto Alegre, foi irônico: “O mundo é redondo: na negociação com a Itália sobre a extradição de (Henrique) Pizzolato, vamos oferecer Battisti?”. O ativista italiano Cesare Battisti, acusado de terrorismo, recebeu asilo político do governo brasileiro quando Lula era presidente.Tarso Genro, então ministro da Justiça, foi quem concedeu a ele status de refugiado político.

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