9.21.2013

Estudo: bebês indesejados podem nascer tristes e ter problemas mentais

Médico afirma que uma gravidez não desejada pode gerar uma criança problemática. "A pior doença do futuro é a mental"

 Foto: Getty Images 
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Especialistas de Brasília afirmam que a relação afetiva com o bebê que está para nascer é fundamental para a formação e o fortalecimento do vínculo materno. Estudos mostram que os primeiros seis anos são decisivos na vida da pessoa, especialmente devido ao desenvolvimento cerebral. A formação do bebê, no entanto, já começou antes do seu nascimento.

O médico pediatra Laurista Corrêa Filho teve a certeza da constatação após uma experiência no Centro Internacional da Infância, em Paris, em 1991. No retorno dele a Brasília, seis anos depois, foi um dos idealizadores de um grupo de estudos multidisciplinar sobre o tema. O trabalho cresceu a ponto de o grupo prestar consultoria para o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Pediatria, além de fazer palestras em vários estados brasileiros.

"Até então, o paradigma existente era a parte física, diagnóstico e tratamento. A parte de saúde mental ficava para trás", lembra o médico. A Associação Brasileira de Estudos para o Bebê foi fundada em Brasília em decorrência do movimento.


O médico afirma que uma gravidez não desejada pode gerar uma criança problemática. "A pior doença do futuro é a mental", adverte. Segundo ele, o reconhecimento de que todos os sentidos do bebê já funcionam mesmo antes do nascimento era até então apenas uma suposição, que foi comprovada cientificamente. A maneira como a mãe reage à gestação é fundamental para a formação da criança, garante o médico. Por isso, a comunicação com o bebê é muito importante.

O feto é capaz de captar as vibrações dos sons das palavras emitidas pela voz materna, com todas as emoções que as acompanham. Para os médicos, a relação de troca com o feto é fundamental para a formação e fortalecimento do vínculo materno. É uma forma de garantir a saúde e o bem-estar do bebê. Por isso é importante que as mães conheçam as formas de desenvolvimento dele do ponto de vista físico e mental.

"Se o bebê não for desejado pela mãe, como será essa criança? Será um sobrevivente e não um ser humano. Como ele vai se desenvolver?", questiona o médico.

Na saúde pública, o especialista acredita que a falta de conhecimento é um dos problemas mais graves em relação aos procedimentos com a mãe. Isso faz com que o bebê seja recebido por uma equipe despreparada. Falta acolhimento, na avaliação dele. A intenção com o grupo de estudos é modificar essas atitudes. Por isso, as ações se concentram em melhorar a formação dos profissionais.

A importância da comunicação na gravidez
Durante a gravidez já se estabelece um vínculo afetivo, diz Roselle Bugarin Steenhouwer, médica cirurgiã pediatra, coordenadora geral de Saúde da Asa Sul e diretora geral do Hospital Materno Infantil de Brasília. "O bebê reconhece a voz, até o cheiro do líquido amniótico onde está inserido", afirma.

Para a médica, o bebê é receptivo a tudo o que acontece no ambiente. Ele escuta e sente. Por isso não há nada que a mãe faça que não influa no desenvolvimento da criança ainda no útero. Os casos mais graves são os de bebês rejeitados.


"Ele não pode sentir que não é bem-vindo, que a mãe não o quer ou o rejeita. Caso contrário, esse bebê vai nascer triste. O amor é o segredo do sucesso de um desenvolvimento psicomotor e afetivo saudável", defende.

Ela explica que a mãe pode estar cheia de vontade de ter uma gravidez tranquila e ter problemas. Por isso o mais importante é o bebê sentir que é desejado, apesar das adversidades. "Ela deve parar em algum momento do dia e pensar nele, falar com ele, colocar uma música que ela goste para ouvir e relaxar", sugere.

Os hormônios que a mãe libera, sobretudo os neurotransmissores, passam para o bebê pelo cordão umbilical, explica o médico Raulê de Almeida, especialista em desenvolvimento infantil pela Universidade de Brasília (UNB).

"O bebê percebe o comportamento da mãe e associa com o tipo de hormônio. Se a mãe está muito intranquila, vai liberar catecolaminas, hormônios liberados em situações de estresse. Se a mãe está tranquila, serena, feliz, vai liberar endorfina, e vai transmitir ao bebê uma condição de bem-estar", avalia.

Almeida explica que uma mãe depressiva, triste, que não é capaz de se comunicar com o seu bebê, poderá ter surpresas negativas. A ausência dessa ponte com a criança vai dificultar a formação do vínculo. Consequentemente, o bebê terá uma formação comprometida, sem apego. Poderá desenvolver neuroses, psicoses e problemas na sua vida futura que o impedirão de ser feliz plenamente.

Entre as posturas recomendadas pelos médicos para melhorar a relação entre mãe e bebê estão conversar diariamente com a criança, ouvir música com ela, contar histórias para ela, evitar situações de estresse e de conflito durante a gravidez.

O Ministério da Saúde recomenda ainda que, para garantir uma gestação tranquila e a segurança do bebê, é fundamental que a gestante faça o acompanhamento pré-natal e adote um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e evitando o consumo de bebidas alcoólicas e cigarros.

Número de crianças prematuras é alto no país
Segundo um estudo do Unicef divulgado em agosto, a prevalência de crianças prematuras é de 11,7% em relação aos partos no país. O percentual coloca o Brasil no mesmo patamar de países de baixa renda, onde a prevalência é de 11,8%. Os pesquisadores investigaram os números da prematuridade no Brasil e também o baixo peso ao nascer.

Para Laurista Corrêa Filho, não se pode relacionar a falta de afeto entre mãe e filho durante a gravidez com o caso de prematuridade. Para ele, são vários fatores que contribuem para isso, especialmente gravidez na adolescência.

Noiva perde mais de 44 kg para não parecer uma "baleia" no altar




 Foto: Daily Mail / Reprodução Foto: Daily Mail / Reprodução

Sam McGilay, 28 anos, comia cerca de 3,5 mil calorias por dia, com muito bacon e salgadinhos. Mas depois que ficou noiva, decidiu perder peso porque ficou "devastada" em pensar que seria uma noiva obesa. Em entrevista ao Daily Mail, ela contou como perdeu mais de 44 kg em 11 meses.

"Fui a uma costureira com a minha mãe, Barbara. Fingi que conseguia me espremer em um vestido tamanho 40, mas estava devastada - nunca achei que seria uma noiva obesa", disse. "Tinha pensamentos horríveis de parecer uma 'baleia' no altar."

Aos 17 anos, Sam começou a trabalhar em um escritório onde comia petiscos, lanchinhos e se exercitava quase nada, e um ano depois havia engordado de 70 para 95 kg. A partir daí, foi uma constante luta para controlar os impulsos. "Salgadinhos eram meu fraco, comia pacotes e mais pacotes, mas dizia a mim mesma que não estava fazendo nada de errado", falou.





Ela conheceu seu marido, Brian McGinlay, por meio de amigos e começaram a namorar 5 anos depois, em 2005. "Não me importava com o peso dela, eu amava sua personalidade", disse Brian. "Mas podia ver que ela era infeliz."

"Achava que éramos um casal estranho, porque Brian era muito mais magro. Eu saía horrível nas fotos de férias. Tinha vergonha de parecer tão grande em comparação com minhas amigas", disse Sam.

Em 2009 eles tiveram um filho, e isso deixou os planos de Sam para emagrecer em segundo plano. "Estava amamentando, e isso significava que não podia fazer dieta. Aiden era prioridade", falou Sam. Ela chegou a perder um pouco de peso antes do nascimento do filho, mas quando Aiden tinha 3 meses, ela já vestia tamanho 50 novamente.

Após o pedido de casamento, Sam percebeu que era hora de fazer algo. "Eu precisava do apoio de outras pessoas, por isso fiz aulas de exercícios e grupos de natação", disse. "Comecei a gostar de exercícios de alto impacto, e passava pelo menos 2 horas e meia na bicicleta e passei a fazer caminhadas de 10 km."




Blogueira 'Mimis' conta como perdeu 33 kg em 10 meses: 'mudou tudo'
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A dieta também mudou. Chá com bolacha e banana no café da manhã, sanduíche de presunto magro e cream cheese light com iogurte para o almoço e curry sem gordura para ojantar integraram o dia a dia da noiva.

Em 11 meses ela emagreceu 44 kg, chegando aos 70. Sam e Brian se casaram em agosto deste ano. "Foi lindo dançar com Brian na recepção sem perder o fôlego", disse feliz.


COM A FACA NOS DENTES, MAS TEM QUE GARANTIR OS DIREITOS DOS RÉUS

A segunda guerra do mensalão

Com uma composição que agora é desfavorável a ele, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, terá o desafio de evitar a impunidade

Izabelle Torres

Na quarta-feira 18, quando o ministro Celso de Mello anunciou o voto de desempate no debate sobre embargos infringentes para 12 réus da ação penal 470, consumou-se uma mudança profunda no universo do Supremo Tribunal Federal. O julgamento do mensalão havia transformado o ministro Joaquim Barbosa no primeiro magistrado brasileiro cujo rosto foi reproduzido em máscaras de Carnaval e lhe trouxe uma popularidade capaz de alimentar uma eventual candidatura presidencial em 2014. Treze meses depois, o juiz que muitos brasileiros passaram a considerar como símbolo da luta contra a corrupção encarou uma derrota que o placar de 6 votos a 5 não traduz em seu significado real. Se tivesse sido vitorioso mais uma vez, como aconteceu sem exceção em todas as deliberações relevantes do julgamento, Barbosa teria conservado a posição de força que lhe permitiu conduzir o processo até aqui e provavelmente essa semana réus como o ex-ministro José Dirceu e o deputado João Paulo Cunha estivessem a caminho da cadeia para cumprir suas penas em regime fechado. A derrota de Barbosa, no entanto, adiou esse final, frustrou boa parte dos brasileiros e lhe trouxe novos desafios. Nos próximos meses, o presidente do STF terá a missão de liderar uma corte que seja capaz de assegurar os direitos que a lei permite a réus já condenados, mas que seja intransigente com a punição. E terá de fazer isso sem os mesmos poderes de antes. Nessa nova etapa do mensalão, estarão em cena dois ministros que não participaram das decisões anteriores, um novo procurador da República e um novo relator. Além disso, o resultado da quarta-feira 18 mostra que uma nova correlação de forças pode se instalar no plenário da Suprema Corte, tornando-o mais legalista.
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NOVOS PROTAGONISTAS
Emergem para a próxima etapa do  julgamento. Além do presidente do STF,
Joaquim Barbosa (à frente), exercerão papel fundamental os ministros Luiz Fux,
Luís Roberto Barroso e Teori Zavaski (da esq. para a dir.)
Com direito a pedir redução de penas e mesmo absolvição nos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, nas próximas semanas 12 réus de um total de 25 irão apresentar recursos ao Supremo e aguardar uma sentença definitiva no STF. O desafio é fazer com que esses recursos sejam apreciados com celeridade para que eventuais discussões sobre prescrição não venham a retardar a punição. Apesar de não ser mais o relator do processo, como presidente da Casa, Barbosa mantém considerável poder na condução dos trabalhos. Para acabar com a sensação nas ruas de que o processo do mensalão tende a seguir a centenária lógica elitista da Justiça brasileira, que distingue homens poderosos com dinheiro para bancar dezenas de advogados caríssimos dos ladrões de galinha que não desfrutam do mesmo privilégio, o presidente do STF pode, por exemplo, acelerar prazos para publicação dos acórdãos dos embargos declaratórios. Cabe também a ele definir a pauta de cada sessão, sua abertura e seu encerramento. Terá o direito de tomar decisões monocráticas a respeito de assuntos de relevância, como ocorreu no debate sobre embargos, que só pôde ser realizado depois que a maioria do plenário se rebelou contra a decisão inicial do presidente. Ainda na semana passada, Barbosa deu mostras de que não se intimidou com a derrota. Na quinta-feira 19, pediu aos colegas rapidez na redação de seus votos para que a decisão sobre os embargos fosse logo publicada e começasse a ser contado o prazo para apresentação dos recursos. Um dos ministros novatos, Luís Roberto Barroso, que votou contra Barbosa na quarta-feira, desta vez respondeu com presteza e afirmou que na segunda-feira 23 já terá concluído seu trabalho.
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CORRELAÇÃO DE FORÇAS
Com o voto do decano Celso de Mello (embaixo, à dir. do ministro Gilmar Mendes)
em favor dos embargos infringentes, o ex-ministro José Dirceu (abaixo)
pode se beneficiar de uma composição do STF considerada mais “legalista”
e se livrar do regime fechado. O novo procurador da República, Rodrigo Janot (acima),
só pretende pedir a prisão dos condenados depois que todos os trâmites legais forem cumpridos
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Embora com poucas chances de aprovação, nos próximos dias o presidente também poderá colocar em pauta a proposta de prisão dos réus, antes de julgados os recursos aceitos na semana passada. É o que se chama de desmembramento do transitado em julgado. Os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello defendem essa medida. Se o tribunal aceitar essa proposta, um condenado como o ex-ministro José Dirceu poderia ser preso já em dezembro para cumprir a pena de sete anos e 11 meses por corrupção em regime semiaberto. Enquanto isso, o STF decidiria se manteria ou não a pena pelo crime de formação de quadrilha. Se confirmada, ele passaria ao regime fechado.
Escolhido por sorteio, o novo relator, Luiz Fux, mostrou-se um aliado de todas as horas de Barbosa. Mas não possui a mesma autoridade entre os colegas. Acusado de ter feito uma das mais persistentes campanhas para convencer a presidenta Dilma Rousseff a indicar seu nome para o STF, deixando em vários interlocutores do governo a certeza de que estava convicto da inocência dos acusados, sua capacidade de convencer ministros e liderar o plenário é muito baixa. Outra mudança no ambiente político em torno do tribunal consiste no novo procurador-geral da República, que dará sua opinião em vários momentos do julgamento, a começar pelos recursos que cada réu vai apresentar. Até agora, a postura de Roberto Gurgel sempre foi a de parceiro inquebrantável de Barbosa. O novo procurador, Rodrigo Janot, demonstra uma visão mais moderada e conciliadora. Na semana passada, Janot deixou claro que só pretende pedir a prisão dos condenados depois que todos os trâmites legais tiverem sido cumpridos.
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O ponto decisivo, contudo, reside nas preferências de 11 ministros. Após 13 meses de julgamento, é evidente que a maioria já tem convicção formada e dificilmente irá se comover com novas argumentações. Prevê-se, assim, que os nove juízes que já integravam o STF na primeira fase se limitem a transportar os mesmos votos para a prorrogação, sem maiores alterações. Dos nove votos conhecidos, cinco acompanharam Joaquim e quatro votaram contra. Qualquer mudança a favor dos réus, por isso,  irá depender dos dois ministros novos, Barroso e Teori Zavaski.  Indicados por Dilma Rousseff – como Fux e também Rosa Weber –, os dois já deixaram claro que têm uma visão crítica do julgamento. Barroso chegou a dizer que o mensalão foi um “ponto fora da curva” na história do STF. Por outros caminhos, Zavaski demonstrou opinião coincidente. O comportamento de ambos na fase em que o STF discutiu embargos declaratórios, porém, demonstrou uma postura mais complexa. Mesmo reconhecendo méritos na argumentação da defesa, nenhum dos dois votou a favor dos embargos declaratórios, preferindo perfilar-se com a maioria liderada por Barbosa. Barroso e Zavaski tiveram um papel importante na aprovação dos embargos infringentes. Mas será preciso aguardar o debate de mérito para saber como irão se posicionar. Até agora não se mostraram contrários às condenações.
A principal lição do voto de desempate de Celso de Mello, na semana passada, consiste em evitar maniqueísmos que só podem prejudicar o Direito e a Justiça. Mesmo inteiramente convencido da culpa dos condenados da Ação Penal 470, o decano apoiou os embargos infringentes sem manifestar a menor dúvida de que os condenados são mesmo culpados e devem cumprir a pena recebida. A questão, lembrou o decano, é que um juiz deve ser “justo, isento, imparcial e independente”. Não pode negar a um réu uma garantia assegurada a todos os cidadãos nem renunciar a suas convicções da missão do Direito em favor de pressões políticas ou da opinião das multidões. Esclarecendo, com base numa decisão do Congresso de 1998, que, longe de constituir uma “filigrana ou tecnicalidade,” os embargos integram os direitos fundamentais do regime democrático, Celso de Mello definiu um equilíbrio necessário entre a necessidade de punir crimes de toda natureza  e a importância de se garantir uma ampla defesa, mostrando que é preciso combater a impunidade, mas nem por isso deve-se aceitar que direitos sejam atropelados. Num país onde há justa indignação com a impunidade, caberá agora ao ministro Joaquim Barbosa separar com rigor o que é direito assegurado daquilo que é filigrana ou tecnicalidade, armas que advogados competentes costumam usar para protelar a punição dos culpados.
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A FORÇA DO NOVATO
O ministro Luís Barroso diz que pensa o direito "pela ótica da Constituição"
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MULHERES DESCOBREM UM FILÃO

A força das pastoras

As mulheres ganham espaço nos altares evangélicos do Brasil, conquistando cada vez mais fiéis para essas denominações. Em algumas igrejas, quase metade do corpo pastoral é feminino

por Rodrigo Cardoso

O papa Francisco voltou a surpreender o mundo na quinta-feira 19, quando, durante longa entrevista, de 29 páginas, publicada no jornal jesuíta italiano “La Civiltà Cattolica”, não se furtou a falar sobre assuntos indigestos para a Igreja Católica, como aborto, gays e o papel das mulheres. “É necessário ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. O gênio feminino é necessário nos locais onde se tomam decisões importantes”, afirmou, num discurso que, à primeira vista, pode soar progressista, mas continua tão engessado quanto as colunas da Praça de São Pedro. Em seu comentário, o pontífice enaltece o gênero, mas o coloca como apêndice dos homens na estrutura da Santa Madre Igreja. Ou seja, nada mudou desde sua visita ao Rio de Janeiro, para a Jornada Mundial da Juventude, há dois meses, quando, na volta para o Vaticano, foi questionado por um jornalista durante o voo, sobre o direito das religiosas. Francisco, assim como fizeram seus antecessores, deixou claro que as mulheres são semelhantes aos homens – mas não iguais; são importantes para o crescimento do catolicismo – mas jamais irão atingir o status de sacerdotes. “Sobre a ordenação das mulheres, a Igreja falou e disse: não! Esta porta está fechada”, sentenciou. Enquanto a Igreja Católica segue acorrentada a essa tradição milenar, o grupo dos evangélicos, aquele que mais cresce e faz frente aos católicos no País, anda em sintonia com as mudanças em relação ao lugar das mulheres na sociedade. Transformações essas que vêm fazendo com que elas ocupem cada vez mais postos de liderança e atraiam milhares de fiéis para os templos cristãos.
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O mais novo e fulgurante exemplo de liderança feminina religiosa é Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. A jovem acaba de superar a marca de um milhão de cópias vendidas de seu livro “Casamento Blindado” e faz sucesso na tevê à frente do programa “Escola do Amor”, na Record, que apresenta junto com o marido, Renato. “Entendemos que a liderança da mulher é uma necessidade da igreja e vai muito além do título ou cargo que ela exerce”, afirma Cristiane. “Temos pastoras consagradas no Brasil e ao redor do mundo.” Quem abriu caminho para Cristiane e tantas outras foi Sônia Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo. Apesar de Estevam Hernandes, seu marido, ter o título de apóstolo, é atribuído à bispa Sônia o papel de protagonista. É ela quem arrebata multidões na Marcha para Jesus e reúne milhares de evangélicos nas ruas de São Paulo todos os anos. “Sem o viés feminino que Sônia trouxe à igreja, por certo a denominação não teria tido tanto avanço como houve no Brasil, sobretudo em São Paulo”, afirma Rogério Rodrigues da Silva, pesquisador da Universidade de Brasília.
PASTORAS-01-IE-2287.jpg LIDERANÇA
Apresentadora da Rede Record, Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo,
da Universal do Reino de Deus, vendeu mais de um milhão de exemplares de seu último livro
Para a professora Sandra Duarte de Souza, de ciências sociais e religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), em muitas instituições religiosas as mulheres conseguem criar uma empatia muito mais sólida com a comunidade do que os homens. Na Igreja Batista da Lagoinha, fundada em Belo Horizonte (MG), 44,6% do corpo pastoral é do sexo feminino – a cultuada cantora gospel Ana Paula Valadão é uma delas. Entre os metodistas, as mulheres representam aproximadamente 30% dos pastores – a mesma porcentagem é verificada entre os presbíteros da Igreja Anglicana. Até mesmo uma das mais conservadoras denominações pentecostais brasileiras, a Assembleia de Deus, tem aberto caminhos para as fiéis ocuparem altos postos na sua hierarquia. No mês passado, a denominação permitiu pela primeira vez em sua história que mulheres assumissem o cargo de evangelistas. Para essa posição, que permite, por exemplo, que a eleita dirija um templo, duas jovens foram consagradas no ministério do Brás, em São Paulo. “Já não dá mais para negar a importância da mulher dentro das nossas igrejas”, diz Samuel Ferreira, pastor da Assembleia. “Eu não tenho o direito de negar a elas a prerrogativa de exercerem essa liderança.” Especialistas no tema ouvidos por ISTOÉ têm notado um aumento no número de ordenações de mulheres, principalmente daquelas que estudam para atingir um alto posto na instituição. Ainda é bem maior o contingente de religiosas escaladas para tarefas como limpar e ornamentar a igreja, cozinhar e assessorar pastores em visitas externas. Mas vê-las pregando em púlpitos, batizando, realizando casamentos e celebrando a ceia são cenas vistas já com normalidade e frequência em muitos templos.
PASTORAS-02-IE-2287.jpg PROTAGONISTA
O carisma, na Renascer em Cristo, está em poder
da bispa Sônia Hernandes: referência para as fiéis
Aos 48 anos, a gaúcha Margarida Ribeiro é reverenda da Igreja Metodista, que possui uma bispa entre as oito pessoas que ocupam esse posto no Brasil. Para tanto, ela encarou seis anos de preparação por meio de estudos teológicos e experiências em comunidades. Hoje, em 27 anos de pastorado, já foi titular em 20 igrejas. Mas o início não foi fácil. Quando pisava em alguma comunidade para pregar a palavra, Margarida ouvia o seguinte questionamento: “Você quem vai fazer o culto? Onde está o seu pai ou marido?” Hoje, no entanto, conta com orgulho que, ao ser convidada a dirigir cultos em igrejas pentecostais que possuem dois púlpitos, é frequentemente instada a pregar no principal, local costumeiramente ocupado por um homem. A reverenda, hoje, cuida da criação da primeira comunidade em Santa Isabel, interior de São Paulo. No Rio Grande do Sul, já esteve à frente de templos em zonas rurais, atuou na pastoral do agricultor, desenvolveu atividades sociais, ecumênicas e com mulheres, além de ter supervisionado trabalhos de outros pastores.
“Uma liderança feminina dá credibilidade à igreja evangélica.
Mulher não é vista como exploradora da fé”
Bispo Hermes C. Fernandes, da Igreja Reina
Para Margarida e outras lideranças femininas de origem protestante histórica, a ascensão dentro da hierarquia está muito atrelada à formação teológica, o que facilita o acesso delas a posições de destaque. É o que aponta a professora Sandra, da Umesp. No universo pentecostal e neopentecostal, no entanto, fazer parte do corpo sacerdotal depende em muitos casos do apadrinhamento de personalidades da instituição. Recentemente, só para citar um exemplo, um ministério da Assembleia de Deus consagrou compulsoriamente todas as mulheres de pastores presidentes no Brasil. “Ordenar ou não mulheres não classifica uma igreja como mais ou menos patriarcal. Ter mais mulheres na hierarquia pode significar apenas um dado”, alerta a professora Sandra.
PASTORAS-03-IE-2287.jpg BELAS DA FÉ
Em Vila Velha, no Espírito Santo, três amigas fundaram e administram
uma igreja desde 2011: únicas pastoras de um templo
Sarah Sheeva é alvo de preconceito até hoje simplesmente por ser uma mulher que constrói sua trajetória no meio evangélico sem ser referendada por alguém do sexo masculino. Filha de Baby Consuelo e ex-membro da Igreja Celular Internacional, ela se tornou pastora aspirante aos 38 anos, depois de 16 dedicados à denominação. Hoje, aos 40, ela acaba de se mudar do Rio de Janeiro para Goiânia. Deixou de ser pastora da igreja local e, em vez de administrar uma igreja, preferiu ser pastora missionária e viajar pelo Brasil para realizar palestras e conferências em diferentes denominações evangélicas. “Pessoas ficam com um pé atrás quando chego. Pensam: ‘Mas é essa jovem que vai trazer a palavra, ministrar um congresso?’”, diz. “Temos de nos esforçar duas vezes mais para ganhar a confiança.” A missionária Sarah, ex-ninfomaníaca assumida e mãe de uma jovem de 21 anos, tem um canal no YouTube que já foi visto por dois milhões de pessoas. Alguns vídeos nos quais comanda o culto das princesas, uma espécie de pregação misturada à autoajuda, somam 150 mil visualizações. O que ela fala tem ressonância também no Twitter, onde é seguida por 120 mil pessoas, e no Facebook – sua página já recebeu 325 mil curtidas. Muitas são as confissões evangélicas que reconhecem o dom espiritual das mulheres, mas lhes negam um título, como o de pastora. “Dizem que não há respaldo na Bíblia”, afirma a pastora Simone Saiter, 40 anos, da Igreja Viva Praia da Costa. Uma passagem do apóstolo Paulo é frequentemente usada por lideranças evangélicas que excluem as mulheres de seus quadros: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei” (1Coríntios 14:34)
PASTORAS-06-IE-2287.jpg PREPARO
A gaúcha Margarida tornou-se uma referência na Igreja Metodista
depois de estudar seis anos antes de ser consagrada
O silêncio exigido naquela época, porém, fazia parte de um contexto cultural. Os cristãos se reuniam em sinagogas, onde as mulheres não podiam se manifestar. Para evitar atrito com os judeus, eram orientadas a apresentar seus questionamentos em casa, junto dos maridos. Hoje, a realidade é outra. A pastora Simone e duas amigas, casadas e formadas em teologia, resolveram dar voz à palavra que aprofundavam em núcleos de estudo. Decidiram abrir uma igreja evangélica, a Viva Praia da Costa, em Vila Velha, no Espírito Santo, em 2011. As três são as únicas pastoras da denominação, hoje frequentada por cerca de 100 membros. “Uma liderança feminina dá credibilidade. Mulher não é vista como exploradora da fé, como ocorre com os homens”, diz o bispo Hermes C. Fernandes, da Igreja Reina. Instituição com cerca de 120 templos, a Reina tem 40 mulheres entre seus 160 pastores. Uma delas, a carioca Miriam de Lourdes Silva, realiza uma próspera obra à frente de um templo na comunidade de Acari, no Rio de Janeiro. Naquela área dominada pelo tráfico de drogas, Miriam, 48 anos, já converteu cerca de 20 pessoas, segundo suas contas, todas ex-traficantes. Detalhe: nenhum de seus antecessores do sexo masculino conseguiu tal feito. “Teve um pastor que gastou R$ 20 mil para blindar a igreja dele. A nossa é blindada pelo Espírito Santo”, diz ela.
PASTORAS-07-IE-2287.jpg CORAGEM
Em Acari, uma comunidade dominada por traficantes, a pastora
Miriam já ficou no fogo cruzado entre bandidos e a polícia:
cerca de 20 ex-traficantes foram convertidos por ela
Um dos motivos para o aumento do número de mulheres no corpo pastoral, segundo o sociólogo Ricardo Mariano, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio Grande do Sul, é o crescente sucesso do movimento gospel, onde as estrelas são as cantoras. Aos 37 anos, Ana Paula Valadão é um dos maiores expoentes do gênero no País. “O movimento gospel colocou não somente homens, mas também mulheres em evidência”, diz Ana Paula, que estudou em um seminário para poder ser consagrada. “Algumas cantoras começaram a se destacar nos grupos de louvor e um dos desdobramentos disso foi o reconhecimento da capacidade que a mulher tem para exercer a função de liderança, inclusive em outras frentes.” Não é um diploma que faz uma pastora. Esse título se ganha na prática, com a comprovação da vocação e dos dons espirituais. Mesmo assim, a presença de fiéis do sexo feminino em seminários evangélicos é crescente já há duas décadas. A porta para o exercício do pastorado pode não se abrir para boa parte delas. Mas a busca por conhecimento é a melhor forma de forçar a maçaneta.
PASTORAS-05-IE-2287.jpg PRESENÇA
Na Igreja Batista da Lagoinha, onde a cantora Ana Paula Valadão
é pastora, 44,6% do corpo pastoral é composto por mulheres
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VEJA AQUI NO "O GLOBO" 21 - 09 - 2013 (sábado)

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