1.29.2014

Os homens que gostam muito das mulheres

Virou moda falar mal dos homens que têm muitas parceiras. Num mundo em que a opinião das mulheres é cada vez mais importante, o sujeito comedor, galinha, cafajeste e sem vergonha tornou-se uma espécie de inimigo público número 1. É o tipo de homem que as mulheres não desejam para a sua amiga, odiariam ver ao lado da filha, mas, quem sabe, talvez ficasse bem no sofá da sua própria sala, ou naquela mesa firme da cozinha... Mas, bem, eu estou me adiantando.
O que eu queria dizer, primeiro, é que esse julgamento severo contra os sedutores esconde moralismo raso e uma forma utilitária de ver o mundo.
Qual o problema com o sujeito que se relaciona com várias mulheres e não se fixa em nenhuma delas? Não existe lei ou código de ética que obrigue o sujeito a namorar, casar e montar família se ele não se sente inclinado a isso. É uma questão de estilo de vida e de escolha pessoal. Há quem goste de viver acasalado, há quem goste de ser livre. Isso não deveria ser material de debate ou julgamento. É um direito elementar.

Mas a recusa masculina em se domesticar, sobretudo se parte de homens atraentes, desperta reações emocionais violentas. Coletivamente, a solteirice deles é vista como um desperdício social e genético. Como um cara desses se recusa a ser o meu príncipe encantado? Pessoalmente, algumas mulheres ficam ofendidas porque o sujeito seduz e envolve, mas não se deixa envolver e seduzir na mesma proporção. A recusa dele magoa e faz sofrer as mulheres que ele conquista – e isso tornaria o sedutor uma espécie de criminoso emocional. No mínimo, um predador de moças incautas. Será?
Mesmo com boa vontade em relação às mulheres, não consigo vê-las como vítimas nessa situação.
Obviamente, o sujeito que transa com todas as mulheres conta com a cumplicidade delas. Um galinha só consegue ser galinha porque muitas mulheres gostam dele. Elas disputam a sua companhia e lhe abrem a porta da sua intimidade. Em qualquer grupo de amigos ou local de trabalho, todo mundo sabe quem é o cara que pega todas as garotas. Se ele continua pegando é porque elas gostam – então é o caso de assumir a responsabilidade moral por isso, em vez de jogar a culpa no sujeito. O século XXI não é o das coitadinhas.
Aqui começa a segunda coisa que eu gostaria de dizer: os caras que seduzem as mulheres não são todos iguais. Há pelo menos dois tipos básicos, que têm pouco em comum entre si, mas costumam ser injustamente confundidos.
O primeiro, que as mulheres realmente desprezam, é o carente. Ele pode ser bonito e bom de conversa, mas é, fundamentalmente, um cara que precisa patologicamente de atenção. Sexo com ele é secundário e, segundo eu ouço, de segunda linha. O carente corre atrás das mulheres porque não se aguenta sozinho por cinco minutos, não porque goste especialmente delas. Se você deixá-lo no restaurante, vai xavecar a garçonete. Se você for ao banheiro, ele vai dar em cima da sua mulher. O cara é compulsivo, um bebezão desamparado que estica os braços para toda mulher bonita que passa. Diz e faz o que for necessário para ganhar um colinho, depois tchau.
Esse tipo de sujeito, na verdade, não presta muita atenção na mulher dele. Não por muito tempo, ao menos. Ele está preocupado demais consigo mesmo e com a próxima mulher da vida dele, que acabou de passar pela porta. Por isso a fila anda tão rápido. Ele precisa renovar seus objetos de afeto para manter o interesse. E as mulheres também não o aguentam por muito tempo. Na intimidade, esse tipo de cara parece ser um saco de problemas, que elas logo se cansam de carregar. Ou não... Conheço mulheres que ficaram apegadas por longo tempo, sofrendo como personagem de novela. Voluntariamente.
Esse Dom Juan infantil e compulsivo pouco tem a ver com o segundo tipo de sedutor, os caras que gostam muito das mulheres. Esses são minoria em relação aos carentes e herdam parte da má reputação que eles constroem. Mas não deveria ser assim. Como qualquer mulher que já se envolveu com um deles pode atestar, o cara que gosta muito das mulheres costuma ser uma excelente experiência, por várias razões.
A mulher é a prioridade dele. Enquanto os outros homens se distraem com trabalho, futebol e leitura, esse sujeito investe o tempo e a admiração dele no sexo oposto. Liga, frequenta, cultiva. Tem energia para sair de noite, para esticar a conversa, para transar quando os outros já estão dormindo. Ele mantém o foco. Não há risco de que fique no sofá, vidrado na TV, enquanto a gatinha espera na cama de camiseta e calcinha. Nem vai acontecer daquele fim de semana passar em branco porque ele está exausto. O cara gosta demais do corpo, do jeito e do cheiro da mulher para permitir que ela se entedie. Para ele, cada momento de intimidade com ela é uma festa.
Esse tipo de sedutor tem sucesso entre as mulheres porque é autêntico. Ele não finge sentimentos que não tem nem faz promessas que não está disposto a cumprir. Joga limpo e entrega a mercadoria que promete: muita atenção, sexo intenso e, quem sabe, um bom romance.
Por não ser um patológico, ele às vezes se envolve, mas não é fácil mantê-lo por perto na exclusividade. Há muitas mulheres irresistíveis no mundo para quem gosta tanto delas. Há muitas mulheres dando mole para os homens que sabem fazê-las felizes. Eles são concorridos. Mesmo assim, o homem que gosta muito das mulheres se apaixona. Ao contrário do carente, que não sustenta nada emocionalmente, ele fica, participa, constrói. Ainda que não dure para sempre, como quase nada dura. Se durasse para sempre, aliás, talvez ele deixasse de ser o homem que gosta demais das mulheres e se tornasse apenas um marido, com tudo de bom e mau que isso implica.
Logo, eu pediria às mulheres que tirassem esse tipo de sedutor da lista de procurados pela Polícia Federal. Eles são do bem. Podem quebrar um coração ou outro ao longo do caminho, mas quem nunca fez isso? Na conta geral, distribuem muito mais satisfação do que provocam sofrimento. Eles ajudam marcar na régua a intensidade a que pode chegar uma relação. Eles ficam na memória como coisa boa. Eles proporcionam, com todos os seus problemas, um tipo de relação que todo mundo deveria ter algum dia na vida: sem futuro, mas com um presente inesquecível.

  Ivan Martins
Revista Época

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