1.17.2014

PROPINODUTO

Presidente da CPTM diz que lobista tinha contato direto com a Alstom na França


  • Segundo ele, só recentemente o fato lhe chamou atenção, embora ele esteja exercendo o cargo na companhia pela segunda vez

SÃO PAULO — O presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), Mário Manuel Seabra Rodrigues Bandeira, afirmou em depoimento ao Ministério Público de São Paulo que o consultor Arthur Gomes Teixeira, indiciado pela Polícia Federal no processo que investiga cartel entre empresas do setor metroferroviário, tem contato direto com a Alstom na França. Segundo ele, só recentemente o fato lhe chamou atenção, embora ele esteja exercendo o cargo pela segunda vez.
Bandeira presidiu a CPTM entre 2003 e 2006 e retornou ao posto em janeiro de 2011. Para o Ministério Público, Teixeira atuava como lobista do cartel e repassava dinheiro a funcionários públicos (governo Tucano).
Segundo Bandeira, Teixeira se apresentava nas reuniões da empresa como consultor das principais prestadoras de serviços à CPTM e que apenas três licitações de contratos investigados pelo Ministério Público de São Paulo (trens da série 1700, 4400 e 5000) representaram gastos de R$ 95 milhões ao governo paulista. Contou ainda que Teixeira comparecia sempre acompanhado de representantes das empresas e que fazia anotações em uma pequena agenda.
Ouvido pelos promotores Valter Foleto Santin, Silvio Marques e Beatriz de Oliveira em outubro passado, Bandeira disse que não suspeitou de cartel entre as empresas, pois o setor tem um número reduzido de empresas, mas que Teixeira era consultor das principais delas - Alstom, Siemens, CAF, Bombardier, Iesa e T'Trans. Afirmou ainda que os principais contratos investigados foram assinados na gestão de Oliver Hossepían Sales de Lima e pelos diretores João Roberto Zaniboni, Benedito Chiaradia e Jorge Pinheiro Jobim.


O presidente da CPTM sugeriu que sejam consultados os registros de visitantes do prédio onde funciona a empresa - que devem informar quando e quem participou de reuniões no local.
No mercado ferroviário, Teixeira era conhecido como "o homem da Alstom" no Brasil. O consultor trabalhou por 23 anos na empresa Mecânica Pesada, fabricante de turbinas, que foi adquirida pela Alstom em 1985. Em depoimento ao Ministério Público, ele confirmou que a Alstom se tornara sua principal cliente nos anos 2000.
O ex-presidente da Siemens Hermann Wever, que antecedeu no cargo Adilson Antonio Primo, também afirmou conhecer Teixeira há muito tempo em depoimento prestado à Polícia Federal. Segundo ele, Teixeira era o representante da Mecânica Pesada nas reuniões da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), onde ambos costumavam se encontrar. Além disso, segundo ele, a Mecânica Pesada forneceu turbinas para a hidrelétrica de Itaipu, enquanto a Siemens forneceu geradores.
Wever se aposentou em outubro de 2001 e integrou o board da empresa, em Munique, nos últimos seis anos em que esteve à frente da filial brasileira. É de 19 de maio de 2000, ainda na gestão de Wever, a formação do consórcio Sistrem para atuar na Linha 5 do metrô paulista, que a própria Siemens indicou ter sido fruto de cartel entre empresas do setor em sua denúncia ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Apenas 30 dias antes da formalização do consórcio, a Siemens assinou contrato com as consultorias Leraway e Gantown - 10 de abril de 2000 -, do consultor Arthur Gomes Teixeira, que teriam sido usadas para pagamento de propina.
A tarefa das duas consultorias era dar suporte à Siemens na fase de elaboração do projeto para vencer a concorrência e durante toda a vigência dos trabalhos da Linha 5, mas foram contratas já com o negócio prestes a ser fechado. Com sede no Uruguai, Gantown e Leraway receberam durante a vigência do contrato - que teve 11 aditivos - 8% do valor líquido recebido pela Siemens, descontando inclusive impostos incidentes na importação de produtos para o Brasil. Teixeira negou ser dono da Gantown e e da Leraway.
O ex-presidente da Siemens negou ter qualquer conhecimento sobre irregularidades ou pagamento de propina a agentes públicos.(alguém acha que essa figura iria entregar os Tucanos) . Wever afirmou à PF que era um “presidente generalista” (figura decorativa) , que não acompanhava o dia a dia de cada segmento da empresa, ao contrário de seu sucessor no cargo, Adilson Antonio Primo. Primo foi demitido pela Siemens, acusado de ter aberto uma conta na Suíça sem o conhecimento da empresa e desviado US$ 7 milhões entre 2003 e 2004. A suspeita é que essa conta tenha sido usada para pagar propinas no Brasil. A matriz da empresa afirma que não sabia da existência da conta. Primo nega e diz que a Siemens alemã sabia.
A assessoria da Alstom informou que Teixeira atuou como consultor (intermediário ou representante da empresa) “O Sr. Arthur Teixeira atuou como consultor (intermediario) da empresa dentro de uma prática usual e necessária no mercado de infraestrutura, dada a complexidade técnica e financeira envolvida para assegurar a disponibilidade de todos os materiais e serviços de sua complexa cadeia de suprimentos, que pode incluir vários fornecedores nacionais ou estrangeiros. Portanto, a Alstom, não raro, recorre a consultores (intermediários) especializados e de eficiência comprovada no mercado com o objetivo de auxiliá-la na composição de suas propostas e na condução da execução de seus projetos. A contratação de consultores (intermediários), em virtude de norma interna específica, é sempre submetida a criterioso processo de seleção e avaliação, além de ser supervisionada pelo Departamento de Ética e Conformidade. A contratação de consultores (intermediarios) em momento algum viola as leis vigentes do país”, diz a nota.
Sobre o depoimento de Wever, a Siemens encaminhou a seguinte nota ridícula: “Em relação ao depoimento de Hermann Wever, a Siemens informa que as atuais investigações do setor metroferroviário têm como fonte a denúncia da Siemens aos órgãos competentes. Com base em sua política de integridade e obediência às leis (Compliance), a Siemens forneceu documentos resultantes de suas averiguações internas para que as autoridades competentes possam prosseguir com suas investigações”.

Nota: 
O que vem a ser  “presidente generalista”

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