1.31.2014

Sem tempo para se exercitar? Saiba que o sedentarismo pode afetar a atividade do cérebro

Falta de atividade física altera forma e atuação de neurônios que controlam as funções do coração e aumenta risco de problemas cardíacos

Gretchen Reynolds, do New York Times

Estudo em ratos mostra que sedentarismo muda a atividade cerebral e aumenta o risco de problemas no coração
Foto: StockPhoto
Estudo em ratos mostra que sedentarismo muda a atividade cerebral e aumenta o risco de problemas no coração StockPhoto
WAYNE (EUA) - Uma série de estudos têm mostrado que o exercício pode remodelar o cérebro ao estimular a criação de novas células cerebrais e induzir outras mudanças. Agora, uma nova pesquisa sugere que a inatividade também pode remodelar o cérebro.
O estudo foi realizado em ratos, mas provavelmente tem implicações para as pessoas, dizem os pesquisadores. Eles descobriram que o sedentarismo muda a forma de certos neurônios de maneira que não afeta significativamente apenas o cérebro, mas também o coração. O resultado pode ajudar a explicar, em parte, por que um estilo de vida sedentário é tão ruim para nós.
Até cerca de 20 anos atrás, a maioria dos cientistas acreditava que a estrutura do cérebro era finalizada na idade adulta, que não poderíamos criar novas células cerebrais, alterar a forma das que existiam ou de qualquer outra maneira mudar a mente fisicamente após a adolescência.
Mas, nos anos seguintes, os estudos neurológicos demonstraram que o cérebro mantém a plasticidade - ou a capacidade de ser reformulado - ao longo de nossas vidas. O exercício parece ser particularmente habilitado para remodelar o cérebro, apontaram algumas pesquisas.
Mas pouco se sabia sobre como a inatividade também alterava a estrutura cerebral e quais seriam as eventuais consequências.
Desta forma, cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Wayne, nos Estados Unidos, e outras instituições se uniram para estudar uma dezena de ratos. A pesquisa, publicada no periódico “The Journal of Comparative Neurology“, separou os animais em gaiolas com e sem rodas. Os que tinham rodas à disposição correram cerca de três quilômetros por dia e os outros permaneceram sedentários.
Depois de quase três meses de descanso ou de atividade física, os pesquisadores injetaram um corante especial que coloriu apenas alguns neurônios no cérebro dos animais. A intenção era destacar os neurônios do bulbo ventrolateral rostral, uma parte obscura do cérebro que controla a respiração e outras atividades inconscientes centrais para a nossa existência.
O bulbo ventrolateral rostral comanda o sistema nervoso simpático do corpo, que, entre outras coisas, regula a pressão arterial minuto a minuto, alterando a constrição dos vasos sanguíneos. Embora a maior parte da ciência relacionada com a medula ventrolateral rostral tenha sido concluída usando animais, estudos de imagem em pessoas sugerem que temos a mesma região do cérebro e que ela funciona de forma semelhante.
Um sistema nervoso simpático bem regulado comanda os vasos sanguíneos para que se contraiam ou se expandam conforme a necessidade do sangue fluir. É o que te permite, por exemplo, correr de um predador ou se levantar bruscamente da cadeira do escritório sem desmaiar. Mas um sistema nervoso simpático excessivamente sensível é problemática, disse Patrick Mueller, professor de fisiologia na Universidade Estadual de Wayne, que supervisionou o novo estudo. A ciência recente mostra que a “hiperatividade do sistema nervoso simpático contribui para a doença cardiovascular”, disse ele, ao estimular os vasos sanguíneos a se contraírem muito, muito pouco ou frequentemente, elevando a pressão arterial e levando ao dano cardiovascular.
O sistema nervoso simpático irá responder de forma irregular e perigosa, os cientistas teorizam, se estiverem recebendo muitas e possivelmente ilegíveis mensagens de neurônios da medula ventrolateral rostral.
Quando os pesquisadores analisaram o funcionamento do cérebro dos ratos, após os animais terem permanecido sedentários ou ativos por cerca de 12 semanas, eles encontraram diferenças notáveis ​​na forma de alguns dos neurônios do bulbo ventrolateral rostral.
Usando um programa computadorizado de digitalização para recriar o interior do cérebro dos animais, os cientistas perceberam que os neurônios nos cérebros dos ratos em atividade mantinham quase o mesmo formato do início do estudo e estavam funcionando normalmente.
Mas muitos dos neurônios do cérebro dos animais sedentários ganharam novos tentáculos, conhecidos como ramos - que conectam neurônios saudáveis com o sistema nervoso. No entanto, esses neurônios agora tinham mais ramos do que um neurônio normal teria, tornando-os mais sensíveis a estímulos e aptos a enviar mensagens dispersas ao sistema nervoso.
Como efeito, os neurônios tinha sido alterados de maneira que superestimulavam o sistema nervoso simpático, aumentando a pressão sanguínea e contribuindo para o desenvolvimento de doenças cardíacas.
A descoberta é importante uma vez que acrescenta ao nosso entendimento a maneira como, em nível celular, a inatividade aumenta o risco de problemas no coração, disse Mueller. Ainda mais intrigante é saber que a inatividade pode alterar a estrutura e o funcionamento do cérebro, assim como o exercício faz.
Claro, ratos não são pessoas, e este é um estudo pequeno, de curto prazo. Mas já sabemos que não se mover acarreta amplos efeitos fisiológicos. Nas próximas apresentações, afirmou Mueller, ele pretende mostrar slides das diferenças nos neurônios dos ratos e repetir a velha mensagem: “este é o seu cérebro”, e “este é o seu cérebro no sofá”.

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