4.07.2014

Adultos agarrados ao computador. Quando isso afeta as relações, o que fazer?

Por Ana Caetano
Regina Gomes, professora, São Paulo
 
Tenho três filhos já adultos. O mais velho, de 27 anos, vive em constante conflito com o pai, pois o mesmo não aceita que o filho passe os sábados e domingos o dia inteiro em cyber cafés (lan houses). Nesta semana meu marido passou em frente àquele em que o meu filho costuma jogar e ele estava lá em horário de trabalho, o que acabou por gerar uma grande confusão em casa. O que posso fazer? Quando tento falar com meu filho para procurar ajuda, ele não aceita. O meu marido jurou colocá-lo para fora de casa, mas meu filho disse que não vai sair.
  
Cara Regina,
Antes de começar a ler este texto vou pedir-lhe que me “leia” com cuidado. Estou baseada numa leitura “portuguesa de Portugal” deste lado do atlântico e apesar de sermos “povos irmãos”, temos algumas diferenças culturais. Por exemplo, através de amigos e pessoas que acompanho em consultório percebi que no Brasil é dada mais importância à família do que à vida profissional, se compararmos com Portugal. Por isso, e mais uma vez, algumas das minhas palavras podem estar demasiado influenciadas pelo contexto cultural.
Acrescento que tive de consultar a internet para perceber o que são “lan houses” e compreendi o conceito: que o seu filho mais velho passa muito tempo num cyber café (como nós chamamos por cá), a jogar computador. 
É comum existirem opiniões diferentes sobre qual é o tempo adequado para se gastar a jogar, principalmente entre pais e filhos. O que é importante levar em consideração é se esse tempo é de ocupação livre ou está a atrapalhar as responsabilidades atribuídas ao seu filho mais velho. Pelo que percebi, o motivo de zanga do seu marido relaciona-se com o seu filho estar em horário de trabalho a jogar computador. Se for este o caso, está o seu filho a cumprir as responsabilidades que lhe competem? É um tempo desperdiçado? O seu filho faz profissão e ganha dinheiro nos jogos em que participa nas lan houses (há quem o faça e seja muito bem pago!)?
Agora, um detalhe mais delicado: 27 anos e filho mais velho. Sabe, ele já não é “menino”, é um homem, que está a ser um exemplo para os irmãos. Por vezes, este exemplo de fazer as coisas acaba por influenciar os outros a fazerem de forma completamente diferente. Mas também pode estar a ser um exemplo de como se “desperdiça” tempo e não se cumprem responsabilidades.
E continuemos em detalhes delicados: quem “manda” lá em casa? Quem paga as contas? Quem põe a comida na mesa? Será que o seu marido está ser injusto ou se sente injustiçado por ver que o seu filho não assume responsabilidades?
E, acima de tudo: ambos são adultos, porque não conversam? Porque tem de ser a Regina a fazer de intermediária entre eles? Tenha em atenção que este papel de mediadora pode estragar as suas relações familiares, como mãe e como esposa.
Sei que até agora fiz muitas perguntas, talvez baralhando mais do que clarificando. Assim, deixo-lhe algumas sugestões de comportamento:
     - Fale com os outros dois filhos para perceber como eles se sentem em relação ao que se passa;
    - Peça para que todos pensem em como podem ajudar a resolver a situação de forma a não ficar sozinha a “descascar o abacaxi”;
    - Pense no seu futuro e como vai influenciar a sua relação de casamento e como mãe as decisões que forem tomadas agora;
    - Relembre aos visados que são adultos e que podem/devem conversar uns com os outros.

Por vezes, o melhor que podemos fazer para ajudar alguém a fazer é relembrar que cada um é responsável pela sua vida e pelas consequências dos seus atos.


Ana Caetano
Psicóloga clínica
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