4.28.2014

Papas João XXIII e João Paulo II são proclamados santos

Em cerimônia histórica, papa Francisco destaca que ambos 'restauraram e atualizaram' a Igreja Católica

EFE
Cidade do Vaticano - Os papas João XXIII e João Paulo II foram proclamados santos neste domingo em cerimônia histórica na qual o papa Francisco destacou que ambos "restauraram e atualizaram a Igreja". O papa proclamou a santidade dos dois pontífices perante meio milhão de peregrinos chegados de todo o mundo à Praça de São Pedro e seus limites, segundo dados do Vaticano, que estimou em cerca de 800 mil os que se congregaram em Roma para a ocasião.
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Com a fórmula pronunciada em latim, Francisco pediu que se inscrevesse os dois papas no livro dos santos e uma forte salva de palmas se ouviu em São Pedro e nas praças de Roma onde se seguia a cerimônia. Foi também o dia histórico dos "quatro papas" já que além de Francisco ter proclamado santos Karol Wojtyla e Angelo Roncalli, com os cardeais presentes, à esquerda do altar esteve o papa emérito Bento XVI, a quem o papa argentino abraçou antes de começar a missa. "João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restaurar e atualizar a Igreja segundo sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos", explicou Francisco em sua homilia.
Papa Francisco durante a cerimônia histórica de canonização dos papas João Paulo II e João XXIII
Foto:  Efe
O papa argentino começou a missa comentando o episódio bíblico sobre São Tomé que toca as chagas de Jesus ressuscitado e o pontífice argentino ressaltou que Wojtyla e Roncalli "tiveram a coragem de olhar as feridas de Jesus, de tocar suas mãos". "Não se envergonharam da carne de Cristo, não se escandalizaram com ele, com sua cruz; não se envergonharam da carne do irmão, porque em cada pessoa que sofria viam Jesus", acrescentou. Para Francisco, "nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas de sua misericórdia havia uma esperança viva, junto a um gozo inefável e radiante". Uma esperança e um gozo, "que os dois papas santos receberam como um dom do Senhor ressuscitado, e que por sua vez deram abundantemente ao povo de Deus, recebendo dele um reconhecimento eterno".
Para o papa "esta esperança e esta alegria se respirava na primeira comunidade dos crentes" na qual se vivia "o amor, a misericórdia, com singeleza e fraternidade" e foi então quando disse que Wojtyla e Roncalli "restauraram" a Igreja a suas origens. Deles, Francisco lembrou que viveram um século XX do qual "conheceram suas tragédias, mas não se afligiram. Nele, Deus foi mais forte", exclamou. Sobre a personalidade de ambos santos, Francisco explicou que convocando o Concílio Vaticano II (1962), João XXIII demonstrou "uma delicada docilidade ao Espírito Santo, se deixou dirigir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado. Este foi seu grande serviço à Igreja; foi o papa da docilidade ao Espírito".
Milhares de fiéis acompanham a cerimônia de canonização dos papas João Paulo II e João XXIII na Praça de São Pedro
Foto:  Reuters
Já o pontífice polonês foi definido por Francisco como "o papa da família". "Ele mesmo, uma vez, disse que assim gostaria de ser recordado, como o papa da família. Gosto de destacar isso agora que estamos vivendo um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele, do Céu, certamente acompanha e sustenta", acrescentou. Durante a cerimônia foram exibidas no altar as relíquias dos papas recém proclamados santos, as mesmas que na beatificação, O relicário em prata com o sangue do papa Karol Wojtyla foi levado a Francisco por Floribeth Mora Diaz, a mulher costarriquenha cuja cura em 2011 foi considerada o segundo milagre que serviu para canonizar João Paulo II. Já a relíquia de João XXIII, o "papa bom", era um pedaço de pele que foi removido de seu corpo e entregue pelos sobrinhos-netos de Roncalli.
O papa terminou a cerimônia cumprimentando o papa emérito Bento XVI, a quem estreitou as mãos. Após a cerimônia, Francisco cumprimentou as 93 delegações, entre as que havia 24 chefes de Estado e governo, como os reis da Espanha e da Bélgica, além dos presidentes de Paraguai, Honduras, El Salvador, Equador, Albânia, Croácia, e Polônia, entre outros.
Críticas à rápida canonização de João Paulo II
João XXIII, que foi papa entre 1958 a 1963 e convocou a modernização no Concílio Vaticano II, viveu duas guerras mundiais. João Paulo II, cujo papado durou quase 27 anos, testemunhou a devastação da sua terra natal na Segunda Guerra Mundial, sendo reconhecido por muitos pela ajuda ao fim da Guerra Fria e derrubada do comunismo.
Enquanto ambos foram amplamente reverenciados, também houve críticas acerca da rápida canonização de João Paulo II, que morreu apenas nove anos atrás. Grupos que representam vítimas de abuso sexual por padres católicos também disseram que ele não fez o suficiente para erradicar um escândalo que surgiu no final do seu pontificado e que tem pairado sobre a Igreja desde então. A controvérsia, no entanto, não afastou os fiéis católicos. 
Reformulações na Igreja
João XXIII, um italiano muitas vezes conhecido como o "Papa Bom" por causa de sua amigável personalidade, morreu antes do Concílio Vaticano II encerrar seus trabalhos em setembro de 1965. Mas sua iniciativa deu início a uma das maiores reformulações da Igreja nos tempos modernos.
O Conselho acabou com o uso do latim na missa, trouxe o uso da música moderna e abriu o caminho para os desafios à autoridade do Vaticano.
Já João Paulo II continuou muitas das reformas, mas apertou o controle central, condenou teólogos renegados e pregou uma linha mais rigorosa sobre questões sociais, como a liberdade sexual.
Um papa carismático, ele foi criticado por alguns como um rígido conservador, mas a adoração pública que despertou foi mostrada por multidões, cujos gritos de "santo subito!" (santo já) em seu funeral em 2005 foram respondidos com a mais rápida declaração de santidade da história moderna.

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