5.25.2014

Pesquisa mostra como ensinar o cérebro a ser mais afetuoso


  • ‘Máquina de afeto’ pode ajudar a combater estresse, depressão e transtornos comportamentais
Renato Grandelle 

Participantes recordavam um momento agradável, como encontros com amigos
Foto: Stock Photos
Participantes recordavam um momento agradável, como encontros com amigos Stock Photos
Uma breve passagem por um equipamento pode moldar o cérebro e nos tornar mais sociáveis, afetuosos e tolerantes. A experiência, ainda em estágio inicial, está sendo conduzida por pesquisadores do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), e ofereceria novos tratamentos para comportamentos antissociais e transtornos como depressão pós-parto.
Se o estudo for bem-sucedido, os desdobramentos influenciarão o modo como lidamos com situações estressantes ao nosso redor. A ativação das virtudes foi realizada com ajuda de exames de ressonância magnética funcional, em que os pesquisadores encontraram circuitos cerebrais ligados a emoções altruístas e à empatia.
O funcionamento da “máquina de afeto” baseou-se em dois pilares: o conhecimento sobre as bases neurais de sentimentos como ternura e afeição; e a capacidade tecnológica de mapear o cérebro em tempo real.
Três recordações
Na véspera do experimento, os pesquisadores pediram para que cada um dos 24 voluntários recordassem três situações que viveram. Um episódio de afeto — um encontro familiar, por exemplo. Outra experiência de orgulho e conquista pessoal, como uma promoção no trabalho. Por fim, um acontecimento neutro, que não desperta grandes emoções — talvez fazer compras em um supermercado.
Os participantes foram divididos em dois grupos. Metade recebeu informações de “neurofeedback”. Trata-se de uma técnica em que a pessoa visualiza a resposta gerada por suas funções cerebrais em tempo real.
Em uma tela de cristal líquido, dentro da sala de ressonância magnética, os participantes assistiram ao revezamento das palavras “neutro”, “afeto” e “orgulho”. Conforme elas apareciam, os voluntários deveriam recordar as situações correspondentes.
— Além das palavras, os participantes também viam uma argola, que se distorcia ou ficava mais perfeita, dependendo da nitidez de cada sentimento — explica Jorge Moll, neurocientista cognitivo do IDOR e autor principal de um estudo que descreveu a experiência na revista “PLOS One”. — O nível de distorção da argola estava relacionado à ativação, no cérebro, de cada emoção.
Os voluntários, então, eram estimulados a resgatar a memória afetiva. Após três sessões, cada uma com cerca de dez minutos, e realizadas no mesmo dia, demonstraram padrões cerebrais mais característicos de empatia.
O segundo grupo que passou pela máquina de ressonância magnética não recebeu um feedback da própria atividade cerebral.
— As palavras “neutro”, “afeto” e “orgulho” também apareciam na tela, mas a argola movia-se de forma aleatória — conta Moll. — Este grupo não demonstrou aumento na consistência dos padrões cerebrais de empatia.
Efeito na vida real
De acordo com Moll, o sentimento de empatia foi escolhido por ser uma emoção mais complexa e ativar simultaneamente diversas regiões do cérebro. No entanto, os efeitos do experimento fora da máquina de ressonância magnética ainda são desconhecidos.
— Esta tecnologia mostra como esculpir as respostas emocionais no próprio cérebro — revela o neurocientista. — O efeito fora da máquina não é conhecido, não sabemos como ele se refletiria na vida real. Mas o experimento abre uma porta, demonstrando que podemos adquirir controle sobre a atividade cerebral de sentimentos complexos.
A equipe do IDOR quer saber quantas sessões seriam necessárias para que uma pessoa pudesse desenvolver empatia de maneira mais consistente.
— Também vamos abordar outros estágios, como a possibilidade de redução da raiva ou de sentimentos de culpa inapropriados — ressalta Moll.

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