6.08.2014

Amnésia glútea



Prender e soltar a bola com a coxa é o início da aula de pilates: exercício ajuda a alinhar o corpo e a ‘acordar’ a musculatura glútea
Foto: Daniela Hallack Dacorso
RIO - Dores lombares ou nos quadris, vida sedentária e muitas horas sentado podem ser o prenúncio de um problema pior: amnésia glútea. Isso mesmo, a musculatura do bumbum “esquece” que está ali, joga o peso na coluna e causa ainda mais dor. Esteticamente, pode ser percebido como um bumbum flácido, para baixo. O termo foi cunhado há alguns anos pelo médico canadense Stuart McGill e descreve o quadro em que as dores atrofiam o músculo.
Suba um lance de escadas. Ou, o contrário, agache-se. Com a coluna alinhada aos quadris, faça um ou outro movimento e, se sentir uma dor insuportável na musculatura que vai da parte de trás da coxa ao bumbum, procure um médico. Ou um preparador físico. Ou ambos.
— O quadro é problemático por várias razões. Atrofiados, os glúteos não poupam as costas nem a articulação do quadril, pois trazem a cabeça do fêmur para esse encaixe. Isso geralmente acompanha a amnésia glútea — explica o próprio McGill.
O professor de Educação Física Thiago Fernando Martins, que dá aula de musculação em Santa Teresa, avalia os alunos em testes simples como levantar-se e sentar-se. Volta e meia tem um caso de amnésia glútea.
— É mais comum do que se pensa, em homens e mulheres. Se a pessoa, ao se levantar da cadeira, inclina muito o corpo para frente, é porque usa pouco a musculatura glútea e compensa com a lombar — observa.
Ao ouvir o termo amnésia glútea, a estudante Valentina Porto, de 15 anos, aluna de pilates da Velox, faz logo uma brincadeira:
— Eu adoraria ter glúteo para ter amnésia glútea.
E, ao saber da relação com as dores na lombar, ela observa que, de fato, sua maior curva de coluna é na lombar, mas diz que ainda não sente dor.
— Ainda! — diz Luciana Mariane Andrade, de 33 anos, que descobriu uma hérnia depois de três anos estudando para o concurso de procuradora federal.
O tratamento começou com hidroginástica, e desde novembro ela faz pilates.
— A dor varia. Com o pilates, eu me sinto melhor. Mas trabalho muito tempo sentada, às vezes dói mesmo — conta.
O professor delas, Otávio Daudt, explica que o pilates alinha o corpo todo antes de fazer o exercício e, assim, trabalha a organização dos membros inferiores.
— Às vezes o exercício nem é de glúteo, mas, como o pilates trabalha com o alinhamento do corpo, a musculatura é bem trabalhada — diz.
Um corpo de pé, bem alinhado, ativa o assoalho pélvico e aproxima os ísquios (ossos pélvicos que apoiam o corpo quando estamos sentados). Esse alinhamento aumenta o espaço articular da lombar.
— Eu acho que as mulheres reclamam mais de dor na lombar, talvez por terem mais hiperlordose ou por fazerem mais tarefas compensatórias, como carregar filhos ou bolsas pesadas — observa Daudt, ele mesmo acreditando que já pode ter sofrido de amnésia glútea.
A atriz e jornalista Laura Mollica, de 27 anos, chegou à turma de pilates por indicação de um profissional de acupuntura, há quatro meses. Com o abdômen pouco fortalecido, ela começou a ter muitas dores nas costas. Nunca tinha ouvido falar da tal amnésia glútea, mas adivinha qual exercício doeu mais?
— Acho que aquele alongamento posterior para o glúteo força mais a musculatura, foi esse que eu senti mais.

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