7.11.2014

Eles existem: três pontos positivos no massacre da Seleção


Torcida se desespera. Como evitar novos vexames? Foto: Edson Rodrigues/ Secopa
Torcida se desespera. Como evitar novos vexames? Foto: Edson Rodrigues/ Secopa
É difícil encontrar aspectos positivos no massacre sofrido contra a Alemanha, mas eles existem. E quando a ressaca passar, terão papel-chave na tentativa de reerguer o futebol brasileiro e mudar a sina de derrotas consecutivas para equipes europeias nas partidas decisivas em Copas do Mundo.
O primeiro é o próprio fato de que foi um massacre, que evidenciou ao mundo algumas das mais profundas deficiências do futebol nacional, seja de ordem técnica ou tática. Fez isso com uma força tão grande que ninguém mais poderá empurrar essas deficiências estruturais para debaixo do tapete. Fundamental, porque o primeiro passo para achar o remédio certo é ter o diagnóstico certo.
O segundo aspecto positivo da derrota é que ela aconteceu contra a Alemanha. O Brasil, com sua baixa autoestima, já absorveu a característica de algozes muito menos virtuosos. Trocou o futebol de classe pelo “jogo sério”, quando seu estilo plástico falhou diante de equipes mais burocráticas; abraçou os volantes e zagueiros, quando seus meias e atacantes acabaram anulados; passou de time mais caçado a time mais faltoso conforme colocou em cheque sua identidade. Tomar o planejamento alemão como referência será sem dúvida benigno.
Um terceiro ponto favorável na derrota é que ela dá uma lição de humildade ao futebol brasileiro, que ainda crê que a força da camisa, os lampejos dos seus craques e uma pitada de superstição são suficientes para triunfar sobre as mais poderosas seleções do mundo. Se existe um momento para rever dogmas e adotar soluções menos folclóricas é depois de tragédias como essa.
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O fato é que o futebol se profissionalizou, não apenas como negócio, mas como objeto de inovação e alto desempenho. Houve um dia em que talento e tradição eram suficientes para derrotar quem aparecesse pelo caminho. Esse dia está cada vez mais distante e o futebol ganha cada vez mais ares de ciência. Ciência humana, mas ciência. O talento e a criatividade continuarão a ser diferenciais, mas o planejamento, a disciplina, a evolução tática e a inovação terão papel cada vez mais fundamental no trabalho de aumentar a competitividade de uma equipe. O futebol, não por acaso, está cada vez mais europeu e menos sul-americano.
A Alemanha colhe hoje os frutos de um trabalho iniciado oito anos antes, quando, vejam só, seu selecionado caiu na semifinal de uma Copa do Mundo jogando em casa. Os alemães escolheram abrir as portas para jogadores naturalizados e filhos de imigrantes, apostaram em uma mesma identidade tática nas vitórias e nas derrotas e mantém um mesmo treinador há seis anos, mesmo sem ganhar um único grande título.
O Brasil tem a oportunidade de rever seus caminhos e chegar ao mesmo estágio em que a Alemanha de Joachim Loew se encontra hoje. Tem material humano, capital e informação à disposição. Mais do que nunca o futebol brasileiro poderá rever certas posições históricas, como descartar técnicos estrangeiros e colocar a técnica acima da tática e o individual acima do coletivo. Para que a reformulação saia do papel, no entanto, precisa resolver um problema ainda mais profundo, que é ter uma classe dirigente que pense a longo prazo e atue em favor do desenvolvimento do futebol nacional, e não em causa própria. É aí, amigos, que a onça bebe água.

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