7.06.2014

GRUPO QUE ASSUMIU O HOTEL GLÓRIA PROMETE ENTREGAR O HOTEL PRONTO ATÉ 2016

 
Comprado pelo grupo suíço Acron, o Hotel Glória deve voltar a operar às vésperas dos Jogos Olímpicos.
Foto: Marcos Tristão
GENEBRA E RIO — Um esqueleto que ainda assombra a vizinhança vai, enfim, ganhar corpo. As obras do Hotel Glória, tradicional cinco estrelas da cidade, devem recomeçar em agosto, e a previsão é que o empreendimento seja reinaugurado em junho de 2016, às vésperas das Olimpíadas. O hotel será mesmo administrado pela Four Seasons, uma das maiores redes hoteleiras de luxo do mundo, que pertence aos bilionários Bill Gates, fundador da Microsoft, e o príncipe saudita Ben Talal. Um acordo entre o Acron — fundo de investimento suíço que comprou o hotel do empresário Eike Batista — e a Four Seasons está praticamente selado. Por enquanto, do megaprojeto de remodelação do Glória, que pretendia colocá-lo entre os dez melhores do mundo, há um cenário de destruição. Do prédio, de estilo clássico, resta apenas uma “casca” no canteiro de obras, abandonado em meados de 2013.

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A parceria e os contratos detalhando o projeto de renovação serão anunciados ainda este mês. O valor da transação é mantido em segredo, mas as informações iniciais eram que Eike estaria tentando passar adiante o Hotel Glória por R$ 450 milhões. No entanto, o que se fala, agora, é que o montante ficou em torno de R$ 260 milhões, dos quais R$ 190 milhões seriam destinados ao pagamento de financiamento do BNDES.
Em entrevista ao GLOBO em Genebra, Peer Bender, diretor do Acron na Alemanha e em Luxemburgo, falou sobre a ambição do grupo. Ao dar um banho de luxo no Hotel Glória e nos arredores, Bender aposta também na revalorização do bairro:
— Vamos melhorar as áreas ao redor do hotel. Queremos não apenas um prédio de primeira classe, administrado por uma operadora hoteleira de primeira classe como a Four Seasons. Também queremos que toda a área em volta do hotel seja de primeira classe. Queremos acertar tudo, ter todos os acordos assinados antes do início das obras, para não deixar nenhuma pergunta em aberto.

POEIRA É BEM-VINDA
A volta de poeira, barulho e movimentação intensa de operários e veículos, ao contrário de ser um incômodo, é muito bem-vinda para os moradores do entorno. Hoje, eles sofrem com o abandono do canteiro de obras e lamentam que restem apenas mato, poças d'água e urubus. Outro transtorno herdado da obra foi um tapume de metal que cobre todas as janelas laterais do Edifício Itacolomy, colado ao Glória. O objetivo da proteção era impedir que a poeira entrasse nos apartamentos. Mas, além de terem perdido a vista da Baía de Guanabara da janela lateral, a ventilação dos imóveis foi prejudicada. Depois do escaldante verão deste ano, moradores de três andares retiraram a proteção, após uma reunião de condôminos. A escritora Alice de Oliveira, que mora no 11º andar e ainda tem a janela encoberta pelo tapume, disse estar esperançosa após a venda do hotel:
— Acho que, agora, a obra vai ser realizada. Dar de cara com esse abandono é horrível, muito diferente da vista que eu tinha da piscina do hotel.

PROJETO ANTERIOR SERÁ MANTIDO
Segundo Peer Bender, os principais pontos do projeto de renovação iniciado pelo empresário Eike Batista serão mantidos. O hotel terá os mesmos 352 quartos (chegou a ter 610) previstos anteriormente, restaurantes, teatro, lojas, sala de ginástica e piscina com vista para o Pão de Açúcar:
— Estamos criando condições favoráveis para o atual projeto, isto é, trabalhando sobre as áreas mais rentáveis, como o conceito dos restaurantes, do spa. Mas são pequenas mudanças. Não estamos mudando o design. Vamos manter o plano (de renovação).
Uma das ideias é buscar um bom nome para o restaurante do hotel que ficará na Rua do Russel. No total, o Glória terá três: no nível da rua, no lobby e no topo.
— Há bons restaurantes na área. Essa é uma localização que vai atrair bons operadores de restaurantes do Rio, mas ainda não temos nomes. Vamos primeiro assinar o contrato com a rede hoteleira e decidir os conceitos com ela, para depois buscar uma operadora para o restaurante no mercado — disse Bender.
Outras pequenas mudanças estão previstas, como a decoração do hotel:
— Serão apenas alguns detalhes, que não serão notados por quem olhar o hotel de fora. Por exemplo, o mármore no chão e o design dos banheiros.
O Glória será o primeiro investimento do grupo suíço no Brasil. E o diretor do Acron não esconde seu entusiasmo ao dizer que o hotel é prioridade para o grupo:
— Estamos convencidos do desempenho do Brasil e queremos permanecer no mercado por anos. Achamos que a cidade vai atrair muitos negócios no futuro próximo e que vai se tornar uma localização tão atrativa quanto São Paulo.

MEMÓRIA: POUSO DE CHEFES DE ESTADO
Inaugurado em 1922, o Glória foi o primeiro hotel cinco estrelas do Brasil e já recebeu presidentes e celebridades. Projetado por Joseph Gire, o mesmo que desenhou o Copacabana Palace, o Glória foi o primeiro prédio de concreto armado da América do Sul, erguido com o auxílio de engenheiros alemães. Em seu projeto original, o hotel abrigava teatro, cassino, salões de festas e de jogos, áreas de lazer e 150 quartos. Posteriormente foi ampliado, ganhando mais dois andares e mais de 500 quartos, chegando ao final a cerca de 610 acomodações. Dotado de grandes salões, o hotel sediou convenções, congressos e também teve como uma de suas marcas o concurso de fantasias de carnaval, que chegou à 34ª edição no ano de 2008, quando o hotel foi vendido. Nesse evento destacavam-se os artistas Clóvis Bornay e Evandro de Castro Lima com suas elaboradas fantasias de luxo.
O tradicional hotel chegou a receber 19 presidentes ao longo de oito décadas. Entre eles, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, que se hospedavam no Glória quando em visita ao Rio. O ex-presidente da antiga União Soviética Mikail Gorbachov também foi um dos chefes de Estado que desfrutaram da suíte presidencial. E eram famosos os bailes de formatura em seus salões, entre as décadas de 1950 e 1970, ao som de Steve Bernardt, Waldir Calmon, Ed Lincoln e Orquestra Tabajara de Severino Araújo.
Um dos últimos eventos realizados no local foi o ensaio fotográfico em que a cantora Madonna conheceu o modelo que se tornaria seu namorado, Jesus Luz, em dezembro de 2008. A popstar se encantou por uma das enormes luminárias de cristal e cogitou comprar a peça. Mas Eike Batista mandou retirar o lustre do teto e o deu de presente à cantora.

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