10.02.2014

AUTONOMIA NA VELHICE

Brasileiros temem não ter autonomia na velhice
Pesquisa aponta que a principal preocupação do brasileiro ao pensar em envelhecimento é perder a agilidade mental e física.

Já está comprovado que a população mundial está envelhecendo. Sendo assim, cada vez mais os idosos terão participação importante no perfil de consumo que veremos no futuro. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2050, mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo terão mais de 60 anos de idade.

No Brasil, uma empresa especializada em informações sobre o que o consumidor assiste e compra acaba de divulgar sua pesquisa Global sobre Envelhecimento. O estudo apresenta as principais preocupações da população brasileira em relação ao envelhecimento e, também, as principais dificuldades no que diz respeito ao consumo dessa população que, no cenário atual, não tem as suas necessidades atendidas.

A pesquisa aponta que a principal preocupação do brasileiro ao pensar em envelhecimento é perder a agilidade mental e física (64% e 60%, respectivamente). Além disso, perder a autonomia para cuidar das necessidades básicas, como se alimentar e tomar banho sozinho, ocupa o terceiro lugar na lista de preocupações, com 58%. A falta de dinheiro também faz parte desse ranking. Ainda ganham destaque no estudo ter dinheiro suficiente para cobrir despesas médicas (53%) e ter dinheiro para viver confortavelmente (50%). Quando pensa na vida após a aposentadoria, a maior prioridade da população é manter a saúde física e mental (71%) e ter uma alimentação saudável (47%).

De acordo com a pesquisa, 81% dos entrevistados brasileiros julgam que estarão mais bem preparados financeiramente do que seus pais quando chegar o momento da aposentadoria e 36% dizem que a principal fonte de renda nesse período será proveniente de economias e investimentos pessoais. O estudo mostra, também, que 33% da população pretendem se aposentar entre 50 e 55 anos e 34%, entre 60 e 65 anos. “Esses dados demonstram que, para o varejo, esse será o principal perfil de consumidor no futuro”, afirma a analista de mercado da Nielsen, empresa que fez a pesquisa, Aline Sena.

Mas, será que as empresas estarão preparadas para atender esse público? Para a executiva da Nielsen, muitas lojas estão deixando de lado preocupações básicas com esse público. “As empresas têm oportunidade de investir em acessibilidade como rampas, elevadores, embalagens mais fáceis de abrir e rótulos que facilitem a leitura”, comenta.

Segundo o estudo, apenas 34% das lojas varejistas apresentam iluminação adequada para atender a necessidade dos idosos, enquanto 46% atendem parcialmente. Somente 19% possuem prateleiras de fácil alcance e 18% contam com corredores largos, banheiros e caixas adaptados para atender deficientes. Além desses, outros quesitos precisam ser melhorados no atendimento a esse público como, por exemplo, a sinalização adequada e anúncios em letras grandes, que apenas 17% dos varejos apresentam atualmente. Somente 15% contam com bancos para descanso durante a compra e 12% disponibilizam carrinhos de compras elétricos.

“Entender o brasileiro, seu perfil e necessidades é uma tarefa complexa, dada a pluralidade social, econômica e cultural do país, mas é um fator essencial para traçar as diretrizes para vencer o atual cenário competitivo”, conclui Aline Sena.  


A importância da autonomia para o indivíduo idoso



O envelhecimento populacional é fenômeno que merece destaque na saúde pública, visto sua acentuação em todo o mundo. Em 2020, estima-se que o número de idosos brasileiros alcance 32 milhões. Como resultado disso, tem-se uma demanda crescente por serviços de saúde, com idosos acumulando seqüelas de doenças e incapacidades (LIMA-COSTA & VERAS, 2003). Diante disso, a saúde pública deveria vir para auxiliar no resgate da autonomia do indivíduo idoso, semeando bem-estar e qualidade de vida.
Além disso, a autonomia na população idosa deve ser resgatada não somente em hospitais ou instituições de saúde, mas em todos os segmentos de uma sociedade e, mais ainda, pela auto-reflexão e atuação do idoso, independente do contexto em que esta vivendo.
Assim, se faz necessário entender a questão da autonomia na velhice e seus desdobramentos na vida do idoso diante dos enfrentamentos que venham a surgir em meio à sociedade.
A autonomia na velhice
Com o crescente aumento da população de velhos tem ocorrido, concomitantemente, um aumento na demanda de serviços de saúde, sendo freqüente internações hospitalares e maior o tempo de ocupação do leito em virtude do acometimento por doenças crônicas e múltiplas. Para agravar a situação, essa classe etária encontra-se comumente desamparada pelo sistema público de saúde e previdência, acumulando seqüelas de doenças adquiridas e incapacidades que levam à redução na autonomia e na qualidade de vida, apontando para uma complexidade ainda maior quanto às alternativas de atenção às necessidades desse grupo etário (DESTARAC & WESLEY ELY, 2002; LIMA-COSTA & VERAS, 2003; CHAIMOWICZ, 1997).
Hazzard e colaboradores (1994) apresentam que a presença de demência, fraturas do quadril, doenças reumatológicas, acidentes vasculares e deficiências visuais, em associação ao próprio processo de envelhecimento, são responsáveis pela diminuição da capacidade de superação dos desafios enfrentados pelo o indivíduo idoso.
Em virtude disso, a saúde pública vem como elemento de especial responsabilidade, devendo assegurar meios e situações que ampliem a qualidade de vida por meio da autonomia e bem-estar aos idosos que, por sua vez, viabiliza o próprio processo de escolha daquele organismo (BUSS, 2000).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o idoso que apresenta uma ou mais doenças crônicas é considerado saudável quando comparado a um idoso com as mesmas enfermidades, porém sem o controle destas, com seqüelas decorrentes e incapacidades associadas (RAMOS, 2003).
No entanto, apesar de alguns idosos serem privilegiados pela ausência de doenças, o completo bem-estar do indivíduo pode ser observado independente de ser saudável ou não (RAMOS, 2003).
Outro aspecto são os problemas comumente vividos. Assim, uma falência econômica, perda de um ente querido, acidentes, distúrbio mental ou doença incapacitante não são fatores determinantes do bem-estar na velhice, sendo este o resultado do equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade funcional do idoso (RAMOS, 2003).
Envelhecer saudavelmente é dispor de cuidados à saúde e do reconhecimento das suas possibilidades e necessidades específicas. Ou seja, são englobadas questões que ultrapassam a saúde física, referindo-se ao respeito, à segurança e à oportunidade de expressão, sejam em sentimentos, emoções, experiências ou mesmo na execução de atividades na comunidade (PENNA et al., 2006).
Nesse sentido, o bem-estar na velhice está diretamente relacionado com a questão da autonomia do idoso, sendo o poder de decisão sobre a vida e a saúde determinante e, conseqüentemente, o alicerce para que se tenha uma qualidade de vida.
A autonomia na velhice vem também como uma mão a acalentar os sentimentos mais profundos, tendo em vista o contexto em que o idoso vive e as indagações que o acompanha sobre a vida e a morte.
Portanto, a autonomia e a capacidade de expressão são elementos primordiais e essenciais para qualquer indivíduo. Porém, na velhice, novas abordagens são vividas e a necessidade de se sentir útil e atuante renovam a certeza da importância do idoso na sociedade e para a sociedade.
Considerações finais
O envelhecimento é acompanhado por mudanças fisiológicas e biológicas, sendo a saúde pública importante meio de apoio para o assegurar à autonomia na velhice (BUSS, 2000).
Não obstante, essa autonomia deve ser, principalmente, buscada e vivenciada pelo próprio idoso, estando institucionalizado ou não, o que pode levar a uma determinação do seu bem-estar e de sua qualidade de vida.
Dessa maneira, independente do contexto em que se vive, a manifestação da autonomia é fator que remete somente ao ser vivente, não sendo direito de outrem desrespeitá-la ou anulá-la em prol dos seus anseios ou julgamentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUSS, P.M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, n. 1, p.163-177, 2000.
CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev. Saúde Pública, v. 31, n. 2, p.184-200, 1997.
DESTARAC, L.A.; WESLEY ELY, E. Sepsis in older patients: an emerging concern in critical care. Advances in Sepsis, v. 2, n. 1, p.15-22, 2002.
HAZZARD, W.R.; BRERMAN, E.L.; BLASS, J.P., ETTINGER, W.H; HALTER, J.B. Principles of geriatric medicine and gerontology. 3rd Ed. New York: McGraw Hill, 1994.
LIMA-COSTA MF, VERAS R. Saúde pública e envelhecimento. Cad. Saúde Pública; v. 19, n. 3, p.700-701; 2003.
PENNA, F.B; ESPÍRITO SANTO, F.H. O movimento das emoções na vida dos idosos: um estudo com um grupo da terceira idade. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 8, n. 1, p.17-24, 2006.
RAMOS, L.R. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad. Saúde Pública, v. 19, n. 3, p. 793-798, 2003.
SOUZA, J.A.G. (In memorian); IGLESIAS, A.C.R.G. Trauma no idoso. Rev. Assoc. Med. Bras., v. 48, n. 1, p. 79-86, 2002.

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