11.30.2014

Diversidade humana

ETNIA

Professor de escola pública é premiado com projeto sobre diversidade humana

Jayse Antônio Ferreira instigou adolescentes do ensino médio a se descobrirem e a valorizarem suas origens e características

Publicado em 30/11/2014, às 03h00

Margarida Azevedo

Alunos se caracterizaram como se fossem de diversas partes do mundo. Rafaela representou a Jordânia / Laétte Neto / Divulgação

Alunos se caracterizaram como se fossem de diversas partes do mundo. Rafaela representou a Jordânia

Laétte Neto / Divulgação

Foi o sociólogo Gilberto Freyre, ao escrever Casa Grande e Senzala, em 1933, que lançou um dos mais ricos relatos sobre a miscigenação do País. “Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro”, afirmou. Oito décadas depois da publicação do livro, numa cidade da Zona da Mata pernambucana, cenário de plantações de cana que tanto serviram de pesquisa para o escritor, o professor de artes Jayse Antônio Ferreira, 34 anos, instigou adolescentes do ensino médio a se descobrirem e a valorizarem suas origens e características. Como reconhecimento, ele é um dos 39 vencedores do 8º Prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação (MEC), que teve 6.808 concorrentes de todo o País.
“Depois do projeto, os alunos passaram a ter um novo olhar sobre si mesmos. Passaram a sentir orgulho da sua cor, das suas características. A partir de fotografias que fizemos deles retratando povos e etnias diferentes, mostramos que eles podem ser apreciados de maneira digna, desmistificando a crença de que uma raça é mais bonita ou mais importante que outra”, afirma Jayse, professor da Escola de Referência em Ensino Médio Frei Orlando, que fica em Itambé, a 76 quilômetros do Recife. A iniciativa, intitulada “Eu Sou uma Obra de Arte: Etnias do Mundo”, é uma das cinco finalistas da categoria ensino médio.

O pontapé do projeto se deu quando Jayse percebeu que seus alunos, a maioria adolescentes socialmente desprivilegiados e fora dos padrões europeus de beleza, sentiam-se menosprezados e com baixa autoestima. “Uma discussão em sala de aula me chamou bastante atenção. Os alunos comentavam sobre a dificuldade que tinham de responder o questionário socioeconômico do Enem, na questão que versava sobre como eles se consideravam, se brancos, negros, pardos ou mestiços”, conta o professor. “Observei que a dificuldade não estava em marcar uma alternativa ou em se colocar nessa ou naquela categoria, mas em reconhecerem-se especialmente como negros, pardos ou mestiços, já que o preconceito no Brasil é no fundo com biotipos socialmente marginalizados”, complementa.

Após uma pesquisa com 340 alunos de 14 a 18 anos das três séries do ensino médio, para saber em qual raça cada um se incluía, o professor identificou com eles quais as etnias mais e menos comuns no grupo. Escolheram 20 povos para aprofundar o estudo. O trabalho foi além da disciplina de artes. Envolveu discussões filosóficas sobre a beleza, abordou aspectos geográficos e históricos de cada país, ensinou sobre a melanina na aula de biologia. Depois, a tarefa foi identificar 20 alunos que tinham os traços físicos mais parecidos com os povos estudados. Em seguida, inspirados nas imagens do livro Face a Face – Uma jornada por povos do mundo, do professor Alejandro Szanto de Toledo, da Universidade de São Paulo (USP), foram feitas fotografias desses alunos.

O fotógrafo Laétte Neto, tio de uma aluna, topou fazer as fotos de graça. A maquiadora Sayury Matsubara também foi voluntária. Os colegas professores da Escola Frei Orlando fizeram cotas para bancar a gasolina das viagens realizadas para produção das fotos em cenários que simulam a China, Alemanha e Escócia, feitas no Recife; do Havaí e do Marrocos, feitas na Praia de Pitimbu (PB); e dos indígenas, clicada na cidade de Ingá (PB). O projeto contou ainda com apoio dos comerciantes de Itambé, que emprestaram roupas, jóias e adereços. No final, uma exposição foi montada para apreciação de todos os moradores da cidade.

“O trabalho foi muito além do que eu esperava. Poder observar o aumento da autoestima dos alunos que estavam à margem dos padrões de beleza foi o meu maior presente. Receber dos pais desses alunos o relato de que seus filhos se sentiram mais confiantes e felizes quanto a sua cor e aparência foi muito gratificante.”


A aluna Maria Heloísa representou os moradores da Namíbia, na África
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