11.02.2014

Paes comemora vitória de Dilma e detona programa do amigo Aécio Neves

Prefeito diz que país venceu ao não trocar o certo pelo duvidoso

Caio Barbosa
Rio - Fiel à presidenta Dilma desde o início da campanha, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes comemorou a eleição da aliada que, segundo ele, é a grande responsável pelo canteiro de obras em que se transformou o município. Amigo pessoal e parceiro de copo de Aécio Neves, o prefeito lembrou que não teve o apoio do tucano nas duas vezes em que se candidatou e fez duras críticas à campanha do PSDB.
Para Paes, a derrota de Dilma afetaria os investimentos e projetos sociais importantíssimos para o país e, por isso, foi melhor não ter trocado ‘o certo pelo duvidoso’. Pretendido pelo PT e pelo PDT, disse que virou político por causa de Brizola, mas avisou que fica no PMDB.
A sua situação ficou boa com a vitória da Dilma, hein?
Ficou boa para o Rio. A minha lógica de raciocínio é a seguinte: sou prefeito da cidade e se tem uma coisa que deu certo foi essa parceria. Você pode não gostar do penteado da Dilma, do sorriso da Dilma, mas se tem alguma coisa que a Dilma e o Lula fizeram, foi ajudar o Rio de Janeiro. Por mais que se conteste Cabral, Pezão, Eduardo Paes e a vovozinha, todo mundo tem que admitir que esta cidade parou de olhar para trás e passou a olhar para a frente. Quando entrei na prefeitura, o orçamento era de R$ 10 bilhões. Agora é de R$ 30 bilhões.
'O país venceu ao não trocar o certo pelo duvidoso'
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
A prefeitura investia de quinhentos a seiscentos milhões por ano. Em oito anos eu vou investir trin-ta-e-sete-bi-lhões (diz, soletrando). Não são os meus lindos olhos azuis, que não os tenho, que fizeram isso. Tenho minhas qualidades, trabalho, acho que sou um bom gestor, não vou ficar de falsa modéstia, mas teve muito carinho e parceria da Dilma. O Rio saiu bem na foto com a Dilma e com o Pezão. É um ciclo que precisa de ajustes, adaptações, mas foi uma vitória da cidade.
Mas com o Aécio será que o Rio perderia tanto? Ele deixaria de investir com a vitrine que será a Olimpíada? E vocês tem boas relações .
Gosto muito do Aécio. É meu amigo pessoal e isso causa até um certo constrangimento, mas nas duas eleições que disputei para prefeito, numa ele apoiou o Gabeira, na outra o Otavio Leite. Jamais deixei de tomar minha cerveja com ele e manter uma boa relação, mas uma coisa é a relação pessoal, outra é a questão política. Acho ele um grande quadro da política, mas era trocar o certo pelo duvidoso.
Por quê?
Todos os acenos da candidatura dele eram de desaceleração enorme dos investimentos públicos e de políticas sociais que eu acho fundamentais. O Brasil tem que manter a estabilidade sem fazer com que mais gerações de brasileiros paguem pecados que não cometeram. Concordo com a Dilma quando ela diz que não vai controlar inflação desempregando as pessoas, porque as pessoas têm que viver.
Não vou controlar a inflação dizendo que os bancos públicos não podem financiar o Minha Casa, Minha Vida. As pessoas que reclamam da falta de mobilidade nos centros urbanos e da falta de investimentos em infraestrutura eram as mesmas que estavam condenando a política econômica da Dilma que permitiu a estados e municípios tomar financiamentos para fazer BRT, obra de infraestrutura, fábrica de escolas e clínicas da família. Afinal de contas, o que essa gente quer?
Quando eu perguntei sobre você ficar bem na foto, na verdade não era apenas o administrador Eduardo Paes, mas o político Eduardo Paes, que foi o único pemedebista realmente fiel à presidenta, que foi quem acabou ganhando a eleição.
O PMDB venceu as eleições e todos nós somos vitoriosos. No estado, parecia que o PMDB era uma desgraça e não fazíamos nada direito. A eleição mostrou que estávamos no caminho certo, o que não quer dizer que o caminho seja perfeito e não precise de adaptações. Na questão nacional, tínhamos pessoas que pensavam diferente, mas não dá para condenar o Picciani pela posição dele, até porque ele disse lá atrás que se o PT não apoiasse o Pezão, ele não iria apoiar a Dilma. É compreensível.
'Estou bem onde estou até o dia 31 de dezembro de 2016'
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
Sim, é compreensível. Mas a sua opção talvez não tenha sido a mais acertada?
Não vejo ninguém derrotado. Essa crise que não existe. Converso permanentemente com o Picciani. Tem as disputas internas, mas o partido está unido quando tem que estar unido. Quando eu questionei a entrada do Cesar Maia na chapa, o presidente do PT, Washington Quaquá, veio dizer para eu seguir com eles, e eu respondi "não vem querer dividir o partido aqui, porque a questão não é essa". É igual briga de casal. Da tua mulher só você pode falar mal. Se alguém falar, você vai ficar brabo. Acho que é um pouco isso.
O senhor fala em união, mas há uma clara divisão no PMDB visando a eleição de 2016. Você quer que o Pedro Paulo seja o seu sucessor, e o Picciani quer seu filho, Leonardo Picciani.
Não tente esfriar o meu café, nem esquentar meu chope até 31 de dezembro de 2016. Até lá, quem manda na cidade, quem é o prefeito, e com muito prazer, sou eu. Esse debate está muito distante. O que há é um processo legítimo de candidaturas de dois deputados federais do partido, duas pessoas qualificadas. Eu entendo que o Pedro é uma espécie de primeiro-ministro do meu governo e está preparado para dar continuidade a um processo de transformação da cidade.
O nome dele está colocado e tem meu apoio, mas é legítimo que um quadro como o Leonardo esteja colocado também. A gente vai ter que se entender. Esse debate tem que se consolidar em algum momento para que o partido marche unido em torno da nossa candidatura. Mas o mais natural, sempre, se o governo estiver bem avaliado, é que não tenha invencionices e a candidatura seja uma que dê prosseguimento ao que o gestor está fazendo. Mas são candidaturas legítimas e o debate será mais para a frente, animado permanentemente pelos fofoqueiros de plantão e pela imprensa.
Mas se nessa disputa interna, se por acaso você perder, não é apenas o Quaquá que abre as portas do PT para você. O Lula também quer e, se bobear, agora a Dilma também.
Fico lisonjeado pelas palavras do Quaquá, do Lula eu não preciso nem dizer, mas estou feliz onde estou e quero muito a aliança com o PT em 2016. Quero muito não repetir os erros de 2014. Não dá para usar a expressão o "Picciani vencer" ou o "Eduardo vencer". Se tiver isso, o partido estará derrotado. Acho que o que tem que estar em questão é um projeto de transformação da cidade e o ideal em relação ao PT é que eles estejam com a gente porque essa aliança foi transformadora do Rio.
Mas um convite do Lula e da Dilma não seriam sedutores?
Primeiro que ainda não recebi convite nenhum, segundo que estou feliz onde estou. Terceiro que a gente pode estar juntos sem estar no mesmo partido. Vou permanecer no PMDB porque gosto do PMDB, um partido que permite opiniões diferentes, que não é autoritário e centralizador. Na minha trajetória política nunca fui muito ligado a partidos e acho que o PMDB permite que eu tenha minhas opiniões sem que alguém venha no dia seguinte dizer que eu não posso dizer aquilo. Não consigo ser assim.
Você já vem há alguns anos flertando com o brizolismo, antes mais encabulado, até mesmo por causa das plateias, agora menos, sempre citando educação, o legado de Brizola e Darcy Ribeiro...
A razão de eu estar na política é o Brizola. Sou de uma família de classe média alta, absolutamente distante da política, totalmente conectada à iniciativa privada. E na abertura democrática, foi o Brizola que me inspirou, com 13 anos, a entrar para a política. Que me fez olhar para os mais pobres. Eu nunca neguei isso.
Mas nunca falou.
Em 2008, quando ganhei o apoio do PDT no segundo turno, cantei "la la la la la Brizola" (o jingle do ex-governador na campanha presidencial de 1989). Para mim é legal ter o PDT no governo. É sensacional ter no governo um partido que tem mesmo um olhar mais carinhoso pelos mais pobres. A vida é assim. É como olhar para a cara do Lula e da Dilma. Eles falam de quem mais precisa. Acho que nossa tarefa na vida pública é cuidar de todo mundo, mas ter um olhar especial para quem mais precisa, para os mais pobres.
Quando o senhor foi candidato pela primeira vez, a sua imagem era de um político conservador, de direita, com cara de paulista, mauricinho (risos). Acha que conseguiu mudar isso?
Típico físico a gente não escolhe. Só posso engordar ou emagrecer. Eu entrei na política por causa do Brizola, me aproximei do Cesar Maia, que era um político do PDT. O que aconteceu é ele deu uma guinada grande para o campo conservador e eu acabei embarcando junto, mas o que me moveu na vida pública foram os ideais de olhar para quem mais precisa, para os mais pobres. E falo isso com tranquilidade.
Não vou fazer nenhum discurso populista. Não vou dizer que fui engraxate, camelô, que passei fome ou algum sofrimento material. Meus pais sempre me deram todas as condições. Lugares que muita gente conhece depois que entra para a política e enriquece, eu conheci na juventude. Fiz o caminho contrário. Sem demagogia nenhuma. Nasci na Zona Sul do Rio de Janeiro, que tem que ser bem cuidada, que é a porta de entrada da nossa cidade, mas tem a outra parte que ninguém olhava. É para esses que eu olho mais mesmo, mas vou cuidar também do Leblon, de Ipanema e da Barra.
Tudo o que todos os prefeitos da história da cidade fizeram de creche, somados, eu fiz em um mandato
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
O senhor inaugurou esta semana a fábrica de escolas, novamente uma inspiração brizolista. Brizola voltou à tona na campanha deste ano, mas o povo já se acostumou a ver políticos falando em educação no ano de eleição e, depois, nada fazerem. O que a educação representa para o senhor?
No meu primeiro governo fiz 120 creches. Saí de 30 mil vagas em creches para 60 mil. Dobrei. E vou triplicar. Tudo o que todos os prefeitos da história da cidade fizeram de creche, somados, eu fiz em um mandato. Se pegar todas as cidades que estão na nossa frente no Ideb e somar todos os alunos que eles têm, é menos do que a gente tem na nossa rede, que é um super orgulho para a prefeitura.
Mas a gente não vai dar solução para o país sem qualidade de ensino, e para isso tem que ter turno único de verdade. E para isso tem que ter escola. Vou cumprir a meta que eu estabeleci de chegar a 35% da rede com educação em tempo integral.
Peraí: essa meta de 40% era até o fim deste ano, não até o fim do governo. A meta era de transformar 10% das escolas por ano, até 2020. E isso dá bem mais de 40%.
É, na verdade vamos chegar de 35% a 40% com escolas em turno único. Mas se tivermos mais 8 anos de foco nisso, por parte do meu sucessor, acho que até 2024 o Rio consegue ter 100% de suas crianças em turno único.
Uma das críticas que fazem ao Brizola é que ele deu atenção apenas aos CIEPs e deixou de lado as demais escolas. A remuneração dos profissionais de educação também era uma crítica comum no governo dele. Você está atento a isso, sobretudo após as greves do ano passado?
Por mim, professor ganharia R$ 30 mil por mês, mas o professor da rede municipal que trabalha 40 horas por dia ganha perto de R$ 4.500 por mês, o maior salário dentre as capitais do Brasil. Com o Plano de Cargos e Salários aprovado ano passado pela Câmara dos Vereadores e que agora começa a ser efetivado, até o Sepe botou no Facebook um "finalmente", "nossa vitória", "conseguimos"... não há governo no país que trate o servidor como a gente trata. É só comparar. Comparem com São Paulo, por exemplo.
E a nossa rede é a maior do Brasil, maior até que a de São Paulo. Temos 700 mil crianças. Quem está em primeiro lugar no Ideb, Florianópolis, tem 8 mil. Palmas, no Tocantins, tem 5 mil. Curitiba tem 50 mil.
E o Rio está em que lugar no Ideb?
No primeiro segmento (até o 5º ano do ensino fundamental), estamos em terceiro. No segundo segmento (9º ano), em sexto. Trabalhando para chegar em 2016 em primeiro.
E a parte física das escolas?
Temos o programa Conservando Escolas que tem, literalmente, o triplo de recursos que tínhamos quando entrei na prefeitura, mas é uma rede com 1.200 unidades de ensino. É óbvio que não tem mundo perfeito numa rede deste tamanho.
E as Olimpíadas? No ano passado houve alguns momentos de crise que deixaram o senhor de cabelo em pé. Está tudo sob controle?
Tá na mão. De cabelo em pé eu vou ficar até o fim de 2016. Acho que até meus adversários mais ferrenhos reconhecem que eu trabalho muito. E durmo muito pouco, mas não é só falta de sono ou cansaço, não. É tensão pelas responsabilidades que temos com tudo na cidade. E a Olimpíada é um grande desafio que me deixa com cabelo em pé todos os dias. Mas essa Olimpíada vai ser conhecida como a Olimpíada do legado. A prefeitura tem responsabilidade sobre 95% do que está se construindo.
Olhem se tem algum escândalo, algum superfaturamento, licitação fraudada que tem... Sei se uma obra está atrasada ou adiantada. Acompanho no detalhe. É um enorme legado que vai se transformar a cidade. Mas como fazer 150km de BRT sem ficar tenso? Como planejar a operação da cidade em 2016 sem ficar tenso? Dá trabalho mesmo.
Ano passado o senhor estava meio abatido, achava que terminaria o mandato mal avaliado. Hoje as perspectivas são outras?
Eu sou realista. Tenho horror a quem vive no mundo da lua. Não me deprimo, não sou desses que dizem "ah, vou para casa mais cedo". Não tenho abatimento. Tenho momentos tensos. Estava mal avaliado no ano passado e trabalho sempre para terminar bem avaliado. É uma porção de desafio que temos e nem sempre eu vou ter a compreensão das pessoas. Vamos ter que desenhar muito. Mas tento explicar e ampliar esse debate.
E a presidência em 2018? É possível, ou como dizia Romário, chegou agora e ainda não dá para sentar na janela?
A única coisa que penso é ser prefeito até 2016. De verdade. O resto é consequência. Se a vida me permitir depois ser candidato a governador, senador, presidente ou Papa, pode ser. Nunca disse que vou abandonar a vida pública para ser presidente da Portela. Já passei da fase de ficar me achando quando alguém cogita o meu nome para alguma coisa dessas, como presidente, governador ou Papa. Que bom que algumas pessoas avaliam que eu tenho qualidade para um dia ser presidente do Brasil. Encaro como um elogio, mas não me emociono e isso não move minhas decisões políticas hoje. Vou ficar focado no meu balneário chamado Rio de Janeiro.
Para finalizar, gostaria de saber algumas opiniões suas sobre temas que estão permanentemente em discussão. Como a regulamentação do aborto, por exemplo.
Sou contra o aborto. Tinha até uma posição mais aberta antes dos meus filhos nascerem, mas acho que é uma decisão da mulher. Um direito da mulher.
Mas, então, é a favor de o governo regulamentar?
Acho que já há uma regulamentação (em caso de estupro ou de o feto ser anencéfalo).
Mas no caso de ser uma opção da mulher...?
Sou contra.
E descriminalização das drogas?
O Brasil já tem uma relação com as drogas leves que melhorou muito. Ninguém mais vai preso porque está com droga leve. Acho que tem que ter trabalho de conscientização e isso passa pela rede pública de ensino. E reconheço que a gente faz muito pouco.
Mas essa política de guerra às drogas, que tanto dinheiro público consome sem qualquer tipo de resultado prático não está ultrapassada?
Há duas experiências radicais. A americana, radical, e a de alguns países europeus, mais liberais. As duas experiências não são positivas. Não acho que o problema do Rio seja a droga, mas o armamento, o território dominado. Em nenhum outro lugar do mundo onde as pessoas consomem droga há território dominado. Isso é uma cultura do Rio de Janeiro que a gente tem que combater. Não acho que liberar seja a solução.
E sobre a desmilitarização da Polícia Militar?
Confesso que nunca me aprofundei nesse tema. Acho que as UPPs avançam, com todos os percalços, numa tentativa de ser uma polícia mais próxima, menos militar, de menos enfrentamento, e mais proximidade. Mas as opiniões mais interessantes que eu ouço são a favor da desmilitarização.
Como o senhor se definiria ideologicamente?
Sou um político de centro com enorme preocupação social e um olhar mais humano sobre as pessoas, porque a gente precisa olhar para as pessoas, mas ao mesmo tempo com uma visão mais pragmática, porque acho que o governo tem que dar resultado, prestar bons serviços, ser transparente, trabalhar com honestidade. Governar é isso. Se for olhar meu perfil administrativo, com metas e resultados, alguns acham que é uma visão mais de direita, liberal, mas se olhar as políticas públicas são todas mais de esquerda, voltada para os mais pobres.

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