11.10.2014

PF apreende 955 quilos de cocaína em nove meses em Cumbica. Só no helicóptero em MG foi pego 500Kg de pasta básica

Em média, a cada dois dias, um passageiro foi preso em 2014, acusado de tráfico internacional. A droga é escondida de formas inusitadas na bagagem.

No Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, passam mais de 100 mil pessoas todos os dias. Na bagagem de muitas delas, a prova de um crime.
De janeiro a setembro deste ano, a Polícia Federal apreendeu 955 quilos de cocaína em Cumbica. E, em média, a cada dois dias, um passageiro foi preso, acusado de tráfico internacional.
Esta semana, o Fantástico ficou dois dias em Cumbica: quarta e quinta-feira. Nesse período, quatro estrangeiros foram presos, com cerca de 20 quilos de cocaína ao todo. A droga ia bem esconda na bagagem deles.
A bagagem é de um passageiro que estava tentando embarcar para a África com um passaporte camaronês. Os policiais logo no check-in identificaram que esse passaporte tinha fortes indícios de falsificação.
Na entrevista com esse passageiro, ele caiu em contradição várias vezes. Portanto, ele foi trazido para a sala da Polícia Federal e a bagagem dele vai ser toda verificada. De duas malas saem 21 cilindros de alumínio bem suspeitos.
“Nem o passageiro soube explicar a razão dessa peça. Então, pela nossa experiência, provavelmente essa peça oculta substância entorpecente”, afirma um agente da Polícia Federal.
Uma das peças é serrada e dito e feito. Um teste, com um reagente químico, comprova. “Acredito que pelo menos uns 10 quilos sejam de cocaína. A gente vai lacrar tudo certinho, vamos mandar para o laboratório para eles poderem estimar grau de pureza”, explica o perito criminal federal Murilo Mamede.
Agora, o policial - que por questões de segurança não pode ser identificado - desconfia de uma moça que ia para a Irlanda, com uma conexão nos Emirados Árabes. Foram poucos minutos de conversa, ela diz que é turista e que nasceu na Letônia, um país do leste europeu. Como não consegue convencer o agente, a moça é levada para uma sala da Polícia Federal.
A confirmação é rápida: o forro da mala esconde um pó branco. São duas embalagens plásticas com três quilos de cocaína.
A suposta turista disse que trabalhava como garçonete para sustentar os três filhos que ela tem na Irlanda. Ela diz também que recebeu uma proposta de um cliente para vir ao Brasil buscar uma mala. Ela alegou que não sabia o que tinha dentro e que iria receber 10 mil euros de recompensa pela viagem, que não chegou ao destino final.
Ela nem viu a cor dos cerca de R$ 32 mil, e agora pode ser condenada a 20 anos de prisão no Brasil.
“Nós prendemos e apreendemos drogas com passageiros da classe econômica, classe executiva e primeira classe”, afirma o delegado da Polícia Federal Wagner Castilho.
Mal termina um caso e já vem outro, bem inusitado. Duas poltronas com almofada de oncinha seriam um bom disfarce para esconder cocaína?
“Se eu tirar aqui possivelmente vai sair, olha a ponta, já saiu branco. Não é todo dia que a gente tem um tipo de apreensão dessas. Geralmente são volumes menores”, afirma o agente da Polícia Federal Jean Bortolini.
O passageiro - um cidadão da Nigéria - queria levar as poltronas para a Costa do Marfim, na África. Vários aspectos chamaram a atenção dos policiais, inclusive o fato do passageiro ter pago as passagens em dinheiro.
“Não consegue lhe explicar como comprou a passagem. Não conseguir dar uma explicação plausível pelo fato de ele estar aqui no Brasil já há cinco meses”, ressalta Bortolini.
Ao todo, 120 policiais federais trabalham em Cumbica. Não seria pouco para um dos maiores aeroportos do mundo?
“O efetivo é o que é possível à Polícia Federal. Existem pessoas que possam superar todo o nosso empenho para o narcotráfico? Obviamente existe, mas a Polícia Federal está cada vez mais empenhada. Principalmente o desmantelamento de organizações criminosas”, explica Wagner Castilho.
Segundo a Polícia Federal, Cumbica faz parte de uma das principais rotas de cocaína do mundo. A droga sai da Bolívia, Colômbia e Peru, países com poucos voos internacionais disponíveis em comparação ao Brasil.
Por isso, a cocaína entra em território brasileiro, principalmente por terra, e de Cumbica, os traficantes tentam embarcar a cocaína em voos comerciais. Os destinos mais comuns são Europa, Estados Unidos, Ásia e África.
No combate às drogas, oito cães farejadores agem nas áreas restritas de Cumbica, onde os passageiros não têm acesso. De repente, o cachorro para e deita. É o sinal de algo suspeito. A mala, então, é levada para o raio-x. “Verifica-se a presença de substância orgânica. Se faz necessária a abertura da mala para a confirmação”, comenta o agente.
A dona da mala faria uma conexão em Portugal. O destino final: África do Sul, país onde ela nasceu. A suposta turista diz que estava no Brasil apenas a passeio, visitando amigos.
Dentro da bagagem, os agentes encontram 35 bolsas de tecido. Pedaços de madeira são usados para carregar as bolsas. Ao todo, há 70 deles, quase 12 quilos. Dentro, cocaína prensada.
A mala com toda essa droga - que foi identificada pelo cão da Polícia Federal - passou pelos agentes de saguão - aqueles que ficam à paisana, vestidos como passageiros comuns - e chegou muito perto de entrar no avião.
E nem todas as bagagens passam pelo faro dos oito cachorros da polícia. “Cem por cento é impossível. Às vezes, passa uma ou outra. A gente procura fazer o máximo possível”, afirma o agente da Polícia Federal Adriano de Souza.
A Polícia Federal reconhece: é impossível controlar toda a cocaína que entra e sai de Cumbica. A questão, portanto, é apreender o máximo que der. “O que dificulta a atuação de qualquer organismo policial é a crescente produção de cocaína no mundo e uma demanda cada vez maior pelo consumo dessa droga, em todos os países do mundo”, ressalta o delegado.

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