3.30.2015

Dom Hélder no caminho para virar santo

Vaticano recebe pedido para abrir processo de beatificação do bispo que ajudou a construir a Cruzada

BEATRIZ SALOMÃO
Rio - Um dos bispos mais conhecidos do país, Dom Hélder Câmara está mais perto de ser beatificado. O Vaticano enviou carta à Arquidiocese de Olinda e Recife, onde ele foi arcebispo, afirmando ter recebido o pedido de abertura do processo de beatificação de Câmara, que também foi bispo auxiliar do Rio de Janeiro nas décadas de 50 e 60. Moradores da Cruzada São Sebastião, no Leblon, comunidade que ele ajudou a construir, comemoraram a novidade.  

Maria Mantovani se mudou, em 1957, com a ajuda de Dom Hélder, para a Cruzada, onde o padre Célio Calixto é o responsável pela paróquia
Foto:  Bruno de Lima / Agência O Dia


A correspondência veio do prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, Cardeal Dom Angelo Amato. O próximo passo será dado se o Vaticano emitir o ‘Nada Consta’, que dará à Arquidiocese de Olinda e Recife a permissão para iniciar o processo de beatificação em âmbito diocesano.
Pároco da Paróquia dos Santos Anjos, que fica na Cruzada São Sebastião, o padre Célio Calixto ficou muito feliz com a notícia. Há três anos à frente da paróquia, o sacerdote lembra que Dom Hélder foi fundamental na inauguração da Cruzada, planejada para abrigar milhares de moradores removidos da favela Praia do Pinto, na Lagoa.
“Esses moradores seriam levados para muito longe, e Dom Hélder lutou para mantê-los na Zona Sul, onde muitos trabalhavam”, conta. “Era uma pessoa muito simples, servidor dos pobres e que ajudou muitas pessoas.”
Maria Mantovani, 76 anos, foi uma das beneficiadas pelos apartamentos construídos. Cearense, como Dom Hélder, ela morou na Praia do Pinto antes de ser transferida para a Cruzada, em agosto de 1957. A mudança aconteceu após Maria pedir pessoalmente ao então bispo auxiliar um apartamento no conjunto recém criado. Ela teve os quatro filhos no local e até hoje ocupa um dos apartamentos. “Assisti a missas com ele e várias vezes segurei a batina dele para não arrastar na lama. Era um homem muito bom, dava atenção a todos, sem pressa. Se for beatificado, colocarei uma foto dele na minha casa”, disse ela.
Bispo fundou Banco da Providência e denunciou tortura

O conjunto habitacional da Cruzada São Sebastião tem dez blocos e foi inaugurado em outubro de 1955, quando Dom Hélder era bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Ele quis que, junto à nova comunidade, houvesse uma escola e uma Igreja. A estrutura se mantém até hoje, com a Paróquia dos Santos Anjos e a escola municipal de mesmo nome. Hoje, há um centro pastoral na Igreja que leva o nome do futuro beato, onde há aulas de catequese e informática, além de ações de saúde, com atendimento médico e odontológico. “Não teríamos patrono melhor para esse espaço da nossa Igreja. A paróquia é fruto do trabalho de Dom Hélder. Ele plantou a semente e nós estamos cultivando”, declara padre Célio.
Dom Hélder nasceu no dia 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, e morreu, vítima de pneumonia, em agosto de 1999, em sua casa, no Recife. Ele chegou ao Rio de Janeiro em 1936, onde ficou por 28 anos. Além da Cruzada, ele criou o Banco da Providência, que até hoje ajuda a população carente.
Durante a ditadura, ele denunciou a tortura no Brasil e chegou a ter a casa metralhada. Em 1970, ele foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, mas o governo brasileiro tentou derrubar a indicação. Mesmo assim, ele recebeu vários prêmios internacionais.

Um comentário:

Antonio Celso da Costa Brandão disse...

Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista.
Dom Hélder Câmara