8.28.2015

Com a UERJ lotada, Mujica emociona e plateia grita “Fora Cunha” e “Não vai ter golpe”



O ex-presidente do Uruguai José Mujica almoça feijoada em um boteco da Praça da Bandeira, na região central do Rio de Janeiro, após receber homenagem da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur) (Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo)
Um encontro de jovens com o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, lotou o anfiteatro (também conhecido como Concha Acústica) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) na noite desta quinta-feira (26). Mujica veio ao Brasil a convite da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur) para um seminário fechado que aconteceu pela manhã. O evento terminou às 20h30 e Mujica se despediu tirando uma foto à frente dos quase 5 mil participantes que estiveram no local.
A iniciativa de realizar o encontro com os estudantes partiu do próprio político, que foi ovacionado pelo público ao ser anunciado no microfone, por volta das 18h30. Ele demonstrou muita simpatia e discursou logo após sua apresentação. O ex-presidente tornou o Uruguai um dos países de legislação mais avançadas em relação às drogas.
O ex-presidente respondeu perguntas sobre diversos temas, como o que pensa sobre “movimentos golpistas” na América do Sul, os maiores desafios da América Latina atualmente, opinou sobre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e chegou até a ser questionado sobre quem são seus exemplos históricos e livros que mudaram sua percepção de vida. “Queridos, a vida é um livro aberto”, brincou.
“Necessitamos de confiança. Temos que aprender que a mensagem é uma: nós podemos andar em um fusca. Somos consequência do interesse do nosso povo (…) O problema mais grave da América Latina é a desigualdade. Temos que ter recurso e isso se chama política fiscal. Na América do Sul o rico não paga quase nada (…) O mundo está se agrupando em gigantescas unidades. A União Europeia está criando uma fabulosa unidade de capital. Qual é nosso destino, ser compradores de conhecimento de ponta? Que a batalha para liberdade seja também no campo da investigação”, declarou. Ex-presidente do Uruguai José Mujica durante debate com jovens (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo)
Mujica também foi questionado sobre a redução da maioridade penal. Ele afirmou que “não considera um caminho ideal”. Perguntado se o Brasil teria capacidade para legalizar as drogas, ele se ateve a falar sobre sua experiência com o tema enquanto foi presidente do Uruguai.

Conterrâneos
“Nós temos que pensar como espécie e não como países. E isso engloba o mundo inteiro. Os pobres da África não são da África, são do mundo inteiro. Os homens que atravessam o Mediterrâneo são nossos. Todos são nossos conterrâneos. A liberdade não se vende, se ganha fazendo algo pelos demais”, disse o ex-presidente.

Devido à lotação do espaço, a Uerj colocou um telão em um estacionamento próximo ao anfiteatro, para que outras pessoas pudessem assistir a palestra. O local também ficou lotado.
Feijoada e rabada
Durante a tarde, Mujica almoçou no Bar do José, na esquina das ruas Barão de Ubá e Santa Amélia, na Tijuca, Zona Norte. No restaurante, foi servido feijoada, rabada com agrião, cerveja e caipirinha. A clientela ficou surpresa ao se deparar com o ex-presidente na hora do almoço, como noticiou o Jornal O Dia.

O ex-presidente ainda esteve na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) pela manhã. O elevador da ABI deu um susto nos jornalistas que cobriam o evento. Ele teria descido até o poço por conta do excesso de passageiros, segundo a assessoria de imprensa do local.

Confira algumas frases ditas pelo político:
O que sabemos é que o que vínhamos fazendo contra as drogas não estava dando resultado. – Sobre a descriminalização das drogas
Os únicos derrotados no mundo são os que deixam de lutar.
Não tem de deixar de ser brasileiro, mas tem de ser latino-americano.
O Mercosul tem um montão de defeitos. Mas, ai de nós se não existir.
Se gosta de dinheiro, vá ganhar no comércio ou na indústria. Mas não se meta na política.
Essa democracia não é perfeita porque não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la.
Pepe Mujica na UERJ

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