11.05.2015

Fotos - Cicuito Mundial de Surfe


    Aula de surfe em Waikiki, na ilha de Oahu, no Havaí Foto: Turismo do Havaí / Divulgação

    Para conhecer o mundo nas ondas do surfe

    Um roteiro pelas atrações ao redor das praias que recebem as etapas do Circuito Mundial

    Aula de surfe em Waikiki, na ilha de Oahu, no Havaí - Turismo do Havaí / Divulgação
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    RIO - Não é porque o mar está flat que sua viagem precisa entrar em lay day. Entre uma onda e outra do World Championship Tour (WCT), o Circuito Mundial de Surfe — que terá sua última etapa no Havaí de 8 a 20 de dezembro —, é possível conhecer vinícolas, visitar museus, explorar parques nacionais e comer em ótimos restaurantes, em destinos tão diversos quanto impressionantes.
    Da França às Ilhas Fiji, da Califórnia à África do Sul, são muitas as opções do turista que quer sair do Brasil — a Barra da Tijuca também integra o circuito — para, aproveitando as férias, ver de perto os melhores surfistas do mundo, como os brasileiros Adriano de Souza, o Mineirinho, Filipe Toledo e Gabriel Medina, o atual campeão mundial.
    Como falávamos acima, no jargão do surfe, não é porque o mar está sem ondas que sua viagem precisa ficar paralisada. Como dependem da natureza, campeonatos têm as chamadas janelas, períodos em que se pode esperar pelas melhores condições de realização das provas, que duram entre 11 e 12 dias. Quando não há onda, não há prova, o que libera o torcedor para passear. Foi assim que a publicitária Gabriela Beck conheceu o País Basco e o sul da Califórnia enquanto acompanhava etapas na França e nos EUA nos últimos anos.
    — Tenho marcado minhas viagens de férias para coincidir com alguma etapa do circuito. Fui assistir à de Hossegor, que fica bem perto de Biarritz e do País Basco. Nos intervalos, ia de carro para San Sebastián, na Espanha. Fiz o mesmo com as provas em Trestles, na Califórnia, quando aproveitei para visitar lugares como San Diego — conta Gabriela, que apesar de não surfar, se apaixonou pela modalidade e pelo clima que as competições criam. — Visitar esses lugares em época de competição é especial, você sente uma energia diferente.
    Gabriela conta que costuma organizar suas viagens sozinha, como faz parte da tradição dos apaixonados pelas ondas. No entanto, quem quiser ajuda para colocar a prancha na estrada encontra uma série de agências especializadas no assunto. Ainda que os pacotes para acompanhar de perto as competições do circuito não sejam os mais vendidos, uma etapa em especial tem crescido em termos de popularidade.
    — Pipeline é talvez o point mais icônico do surfe e está localizado no Havaí, um lugar onde todos querem ir, mesmo quem não está interessado apenas nas ondas. A competição, principalmente com o sucesso dos brasileiros, é uma atração a mais — diz Leonardo Apelian, responsável pelo marketing da Nivana Surf Trips.
    Para Freddy Cerdeira, sócio da The Surf Travel Co., o boom de popularidade promovido pelo título mundial de Medina em 2014 pode ajudar a mudar o surfe de patamar:
    — O surfista antes sofria preconceito, mas esse perfil tem mudado. Temos clientes que são médicos, advogados, pessoas que crescem profissionalmente mas não abandonam a paixão. Muitos me pedem dicas de o que fazer quando as ondas não estão muito boas. Mas, claro, quem viaja para surfar não quer sair do mar.
    *Colaboraram Christiana Lee, Cristina Massari e Victor Costa.

    Havaí

    Passeio entre as plantas raras no Waimea Valley, perto de Pipeline, no Havaí - Christiana Lee
    Surfar no Havaí não é para qualquer um. Literalmente. No início, o esporte de origem polinésia era atividade para a realeza. Só passou a ser permitido para todos no início do século XIX. Mas era preciso ser quase um herói para obter essa façanha. O mais famoso deles foi Duke Kahanamoku, que cresceu na capital Honolulu, na ilha de Oahu, e ficou conhecido por suas vitórias na natação nos Jogos Olímpicos de 1912, 1920 e 1924. Tornou-se o “pai do surfe moderno”, ajudando a divulgar o país e a exportar o esporte para mundo.
    Talvez por isso, a última etapa do WCT, em Banzai Pipeline, no North Shore de Oahu, seja a mais disputada. Vencer em Pipe vale quase tanto quanto ganhar o campeonato. As ondas de tubos perfeitos, que quebram sobre uma barreira de coral, atraem cada vez mais turistas nem sempre interessados apenas na briga pelo campeonato.
    O melhor é se hospedar no North Shore: Honolulu fica a uma hora da região e, durante o WCT, o trânsito pode acabar com o espirito “aloha” de qualquer um. Há pousadas como a Ke Iki Bungalows (keikibeach.com) e hotéis luxuosos como o Turtle (turtlebayresort.com). Outra opção: alugar casa (haleiwatown.com). É fácil andar pela região: só há uma avenida, a Kamehameha Highway, que segue por 11km paralela à praia.
    Para chegar a Pipeline é preciso passar por um pequeno parque antes de ver o point das ondas. Bem pertinho, estão Sunset e Waimea Bay, que têm as maiores ondas da região e podem ser vistas da estrada. Para quem quer distância das ondas grandes, o melhor é mergulhar em Shark’s Cove, uma piscina natural rasa, cheia de peixes e cercada por uma barreira de pedras. Outra opção: Waimea Valley, belíssimo parque, com uma coleção de plantas raras e cachoeira (waimeavalley.net).
    Em Laniakea, de tarde, é a vez de ver tartarugas-verdes. Elas também aparecem em Haleiwa, cidade histórica, hoje tida como a capital mundial do surfe. Ao longo da rua principal, há lojas e restaurantes de comida local, tailandesa, japonesa ou mexicana, em casas antigas. Do porto, saem barcos para passeio ou mergulho com tubarões (sharktourshawaii.com).
    As atrações são diversificadas. A leste do North Shore estão o Byodo-In (byodo-in.com), templo budista criado para comemorar os 100 anos da imigração japonesa, e o Polynesian Cultural Center (polynesia.com), com shows e áreas temáticas das principais ilhas da Polinésia.
    Em Honolulu há muitas atrações. A mais famosa é a praia de Waikiki onde se pode ter aula de surfe. Ao fundo, o vulcão Diamond Head é perfeito para caminhar e ver a cidade do topo. Se levar as crianças, o aquário de Waikiki (waikikiaquarium.org) é o segundo mais antigo dos EUA. A 20 minutos do centro da capital está Pearl Harbour, com relíquias como o navio USS Missouri, famoso pela rendição dos japoneses ao fim da Segunda Guerra.
    Mas o Havaí não é só Oahu. Que tal visitar as ilhas em voos de até 50 minutos (hawaiianairlines.com), e ver vulcões em Big Island, parques no Kauai e praias em Maui? E a passagem Rio-Honolulu-Rio para o período do WTC deste ano sai por R$ 4.023, na United (via Houston) ou R$ 4.686 (via Miami e Los Angeles), na American Airlines.

    Austrália

    A formação geológica conhecida como Doze Apóstolos, na Austrália - Tourism Australia / Divulgação
    De proporções continentais e grande tradição no surfe, a Austrália é o único país a receber três etapas do WCT. Em Gold Coast acontece a primeira delas, entre o fim de fevereiro e o começo de março — este ano vencida pelo brasileiro Filipe Toledo.
    A cidade em Queensland, na costa leste, é um dos destinos mais populares entre os brasileiros no país, tanto a turismo quanto para aprimorar o inglês. Portanto, não se espante se ouvir português pelas ruas.
    Gold tem tudo que uma cidade grande pode oferecer com a vantagem de possuir belas praias. O centro, onde fica o comércio e uma vida noturna bem movimentada, é Surfers Paradise, marcada por um contraste de arranha-céus e litoral — que pode ser visto melhor do SkyPoint, um mirante a 230 metros de altura.
    A cidade ainda conta com parques de diversões como o Dreamworld e o Sea World. No entanto, a grande pedida é aproveitar os dias de janela para fazer trilhas em parques nacionais próximos. O campeonato ocorre em uma outra área da cidade, cerca de 35km ao sul de Surfers. As disputas acontecem em Snapper Rocks. É uma região mais tranquila, sem grandes edificações, mas com belas praias como Kirra e Duranbah, boas para o surfe.
    No meio do caminho, uma dica é parar em Burleigh Heads, pequena praia com churrasqueiras públicas e área para piquenique. Ou no Currumbin Wildlife Sanctuary, reserva aonde se pode chegar bem perto de bichos 100% australianos, como cangurus e coalas. Caso queira esticar um pouco mais a viagem, visite o farol de Byron Bay (a menos de 70km), o ponto mais oriental da Austrália. Se der sorte, é possível ver baleias e golfinhos.
    A segunda etapa acontece em Bells Beach, em Victoria, no sul do país. As ondas perfeitas não são as únicas atrações desse litoral, marcado por falésias e penhascos. Os Doze Apóstolos são um conjunto de rochas soltas na praia que impressionam pelo tamanho. Elas ficam no Parque Nacional Port Campbell, a 150km do local da competição, e podem ser vistas da Great Ocean Road, a estrada cênica que margeia o litoral sudeste.
    A melhor base para se hospedar é a cidade de Torquay, a 10km, onde se respira tanto a cultura do surfe que existe até o Australian National Surfing Museum, considerado o maior do mundo dedicado à modalidade. Mas a agitada Melbourne, maior cidade da região, também não fica longe: a 105km.
    Quem tiver mais tempo para passear pelo país, pode viajar para a costa oeste, mais especificamente para Margaret River, onde acontece a terceira etapa do WCT, vencida este ano por Adriano de Souza, no fim de abril. A cidade, a 230km de Perth, está localizada em uma das mais importantes regiões vinícolas do país. Entre uma onda e outra, é possível visitar as vinícolas Voyager Estate e Leewin Estate (australia.com/pt-br).

    Ilhas Fiji

    A ilha de Tavarua, em Fiji, abriga resort próximo ao local do WCT - Freddy Cerdeira / Divulgação
    A Cloudbreak e a Restaurant, ondas “oficiais” do WCT nas Ilhas Fiji, quebram em um ponto do Pacífico Sul nas imediações das ilhas Namotu e Tavaura, no arquipélago que fica ao norte da Nova Zelândia. Tavarua e Namotu são ilhas com resorts particulares, com capacidade para 50, 60 hóspedes cada, não muito longe de Viti Levu, principal e maior ilha de Fiji. Na época de campeonato (junho ou julho), os resorts são previamente reservados pela organização do evento.
    — Namotu e Tavarua são as duas únicas ilhas próximas ao WCT. A Cloudbreak fica a 5 minutos de barco das duas — diz Freddy Cerdeira, sócio da The Surf Travel Co., representante dos dois resorts no Brasil.
    No local da competição, não tem praia. Há uma bancada de corais e na parte rasa é montado um palanque. As pessoas assistem à competição dos barcos. Quando não há condições para surfar na Cloudbreak, busca-se a Restaurant, cuja formação se dá em frente a Tavarua. Aí, dá para ir andando da ilha.
    — Os dois resorts têm tudo organizado para o surfe, incluindo saídas diárias para pegar a melhor onda. Além do surfe, oferecem algumas atividades como snorkel e stand up paddle.
    Para quem se diverte em outras ondas, o arquipélago é considerado um dos melhores do mundo para mergulho, com destaque para o Recife do Grande Astrolábio. Cuzeiros pelas ilhas, que incluem observação de animais marinhos, são populares.
    Em Viti Levu fica a capital, Suva. Quem viaja para Namotu ou Tavarua desembarca no aeroporto de Nadi e segue por 15 minutos de barco (há transfer diário para Tavarua, às 11h).
    — Os pacotes são de uma semana, entrando e saindo no sábado — diz Freddy.
    Quem parte do Brasil pode ir por Los Angeles, de onde saem voos da American (em code share com a Fiji Airways) para Nadi:
    — Até o ano passado, com o dólar ainda em conta, quem ia para Fiji fazia uma parada em Los Angeles e se equipava nas lojas de surfe antes de seguir viagem. Na volta, é preciso dormir uma noite em Los Angeles para fazer a conexão — explica Freddy, acrescentando que nesta viagem o turista deve se preparar para “cruzar a linha do tempo”, além da diferença de fuso.
    — O voo do Los Angeles é de cerca de onze horas, mas o passageiro chega dois dias depois. Na volta, sai no sábado à noite e chega a Los Angeles no mesmo dia no início da tarde.
    O pacote para Tavarua sai a US$ 3.300 (de março a outubro). Em Namotu, há opções por US$ 2.590. Parte aérea não está incluída.

    África do Sul

    Safári no Parque Nacional dos Eslefantes Addo, na África do Sul - South African Touri / Divulgação
    Quem nunca havia ouvido falar de Jeffreys Bay foi apresentado a este balneário sul-africano no último mês de julho, quando Mick Fanning foi atacado por dois tubarões na última bateria da sexta etapa do WCT. Localizada no Cabo Oriental, a 83km de Port Elizabeth, a cidade está cercada por parques nacionais e destinos para amantes da adrenalina — em doses bem menores às quais Fanning foi submetido, claro.
    Jeffreys Bay está no caminho da Rota Jardim, a única estrada do mundo a margear os oceanos Atlântico e Índico. Trata-se de um roteiro cênico de 316km entre a Cidade do Cabo e Port Elizabeth, que passa por praias, florestas, rios, montanhas, vinícolas e, claro, muitas flores.
    Pouco mais de uma hora nessa estrada leva o visitante ao Garden Route National Park, onde é possível praticar atividades como caminhadas, arvorismo e tirolesa, sobretudo na região do Tsitsikamma, na parte oriental do parque.
    A N2 (nome oficial da Rota Jardim) também leva ao Parque Nacional de Elefantes Addo, a 115km a leste, onde se pode ver de perto, além dos elefantes, animais como búfalos, leopardos, rinocerontes negros, e leões. Diversas agências fazem safáris de um dia pelo parque.
    Frequentada por hippies e surfistas desde os anos 1970, Jeffreys Bay mantém o clima de balneário alternativo. Há várias opções de hospedagem econômica, como B&B, quarto em casas particulares e albergues. Uma das atrações mais populares é o Jeffreys Bay Shell Museum, que reúne conchas retiradas das praias, dos mais variados tipos e em grande quantidade e (jeffreysbaytourism.org).

    Polinésia Francesa

    Mergulho com arraias e peixes coloridos no Taiti - Gilles Diraimondo / Divulgação
    Não consta que Paul Gauguin surfasse. Ainda assim o pintor francês se apaixonou pelo Taiti a ponto de ter se inspirado na ilha para pintar algumas de suas obras-primas. A ligação do artista, um dos grandes nomes pós-impressionistas, com a Polinésia Francesa é uma prova de que existe muito mais por lá que apenas as ondas perfeitas de Teahupoo, que recebe o Circuito Mundial de Surfe.
    Cercado por uma cadeia de montanhas e com muita área verde preservada, Teahupoo ainda é considerada uma região quase selvagem do Taiti. Há poucas opções de hospedagem, em pequenas pousadas integrados à natureza. Caminhadas, banhos de cachoeiras e passeios em pequenos barcos a motor são atividades turísticas bastante populares nesta parte do Taiti. Quem quiser um pouco mais de sossego durante o WCT pode visitar a lagoa do vilarejo vizinho de Vairao e a praia de Maui, ideal para crianças (e entediante para surfistas). Nesta praia fica também o La Plage, o restaurante mais conceituado da região.
    O vilarejo de Teahupoo fica a pouco mais de 70km da capital Papeete, onde chegam os voos internacionais para o Taiti (do Rio, a opção com menos conexões é pela Latam, via Santiago). De carro, a viagem não leva mais de 1h20m entre os dois extremos da ilha, o que possibilita explorar vários pontos durante os lay days.
    Muitas agências na capital organizam passeios de barco e mergulho em diferentes pontos do litoral. Quem quiser opções culturais pode visitar o Museu Paul Gauguin e o Museu das Pérolas Negras, que trata de uma das atividades econômicas mais antigas do Taiti. No caminho entre a capital e Teahupoo, ainda é possível aproveitar os antigos templos Marae, em locais como Marae Mahaiatea e Arahurahu.
    Um dos melhores programas de um dia a partir de Papeete é a ilha de Moorea, onde se chega após apenas 30 minutos de barco ou 15 minutos de avião. E, estando lá, não deixe de visitar as baías Cook e Oponuhu, uma de cada lado do icônico Monte Rotui (tahiti-tourisme.com).

    Califórnia

    Píer da praia de San Clemente, na Califórnia, próxima a Trestles, onde acontece a etapa do WCT - imageslike.com / Creative Commons/Reprodução
    Imagine dirigir de Los Angeles a San Diego. Na estrada, o vento bate no rosto ao mesmo tempo em que você aproveita o belo visual do litoral sul da Califórnia. Quase no meio do caminho, mais ou menos a uma hora de uma das duas cidades, você para o carro, faz uma trilha de pouco mais de 20 minutos e chega a uma praia deserta que parece uma verdadeira máquina de fazer ondas. Bem-vindos, esse lugar se chama Trestles, casa da etapa californiana na elite do Circuito Mundial.
    Se essa parte da competição não acontece em cidades tão badaladas como as litorâneas Huntington Beach e Malibu, o maior charme dessa parada do circuito está em estacionar na estrada e encarar uma trilha que faz lembrar a essência do surfe: a procura pela onda perfeita em lugares não habitados. Bem perto de Trestles, no entanto, existe civilização.
    A cerca de 4km ao norte da praia, está a charmosa San Clemente, onde turistas costumam se hospedar. E, claro, como toda cidade no litoral da Califórnia, tem um píer na praia principal. Um passeio rápido pode ser visitar o Museu da Herança do Surfe, que não é grande, mas cumpre a função de mostrar as evoluções de pranchas e das vestimentas usadas em diferentes épocas. Uma atração à parte são as roupas de borrachas.
    O ponto alto por lá, no entanto, é fazer o passeio no trem da Amtrak, o Coast Starlight. A estação fica bem perto do píer, e o trilho segue beirando o litoral, passando, inclusive, por Trestles. Após o término do campeonato, o ideal é seguir viagem para Los Angeles, a icônica terra do cinema. Ou para San Diego, cidade que fica no fronteira com o México e é considerada o berço da Califórnia.

    França

    Foie gras de pato do novo restaurante de Gordon Ramsay em Bordeaux - Claude Prigent/CRTA / Divulgação
    Gabriel Medina brilhou com sua “prancha mágica” em Hossegor, comuna no Departamento de Landes, na costa sudoeste da França, na região da Aquitânia. Disputando o título de capital europeia do surfe com Ericeira, em Portugal, Hossegor fica na chamada costa basca da Aquitânia, 20km ao norte de Cibourre, onde nasceu Maurice Ravel (em 1875, bem pertinho de Biarritz), quase na fronteira com a porção espanhola do País Basco. E se Hossegor hoje é a capital do surfe ao menos na França, Biarritiz, 35km mais ao sul, se vangloria de ser o berço do esporte na Europa. A origem vem da chegada do roteirista Peter Viertel, nos anos 1950, para as filmagens de “E agora brilha o sol” (1957) — adaptado de um romance de Ernest Hemingway — que, encantado com as ondas da Côtes des Basques, mandou trazer da Califórnia um autêntico longboard.
    Para as horas fora do mar, Biarritz tem cassino, aquário e o City of the Ocean, atração que explora o universo marinho. O Biarritz Aquarium abriu as portas em 1933 na Rocher de la Vierge e vem sendo renovado ao longo dos anos. Também conhecido como Museu do Mar, preserva sua arquitetura art déco, que combina com o estilo litorâneo da cidade. O museu tem exposições interativas e novidades como a sala audiovisual com assentos acústicos, que explora o universo das baleias jubarte.
    A 200km de Biarritz está Bordeaux. Capital do Departamento de Gironde, a cidade portuária do sudoeste da França tem seu emblemático Porto da Lua protegido pela Unesco — Bordeaux foi inscrita como cidade histórica habitada, por seu espetacular conjunto arquitetônico e urbano criado no período do Iluminismo. Atrações como o Espelho d’Água (obra de paisagismo de Michael Courajoud instalada diante da Place de la Bourse) contribuem para que a cidade exiba o título de “melhor destino europeu de 2015”, citada como “uma das mais elegantes cidades da França”.
    O acontecimento gastronômico mais recente em Bordeaux foi a abertura em setembro do restaurante do chef celebridade Gordon Ramsay no Grand Hôtel de Bordeaux, associado a Leading Hotels of the World. No Pressoir d’Argent — a segunda casa do chef escocês na França, além do Waldorf Astoria Trianon Palace, com duas estrelas Michelin, em Versalhes — o menu degustação de cinco etapas sai a € 145 e inclui criações como tartar de carne de Bazas em creme de ostras; caviar da Aquitânia e folhas; carne de veado defumada com foie gras sautê e repolho roxo. Para harmonizar o cardápio de Ramsay — que exibe ainda foie gras de pato com figos e beterrabas (€ 42) — com as tradições gastronômicas da região, rica em carnes, frutos do mar, nada melhor que um bom vinho local.
    Saint-Émillion, com sua igreja medieval, a 50km de Bordeaux, é referência para passeios a vinhedos da região produtora (Apelação de Origem Controlada e Protegida, AOC-AOP). Há tours com visita aos vinhedos com degustação, almoço e transporte (€ 88), partindo de Bordeaux (bordeaux-tourism.co.uk).

    Portugal

    O brasileiro Ítalo Ferreira surfa em Peniche, na etapa portuguesa do WCT - WSL / Divulgação
    Se o brasileiro Filipe Toledo não estivesse tão ocupado vencendo a décima etapa do WCT, em Peniche, encerrada em 31 de outubro, talvez ele pudesse aproveitar muitos dos encantos próximos a este ponto do litoral português, a 100km de Lisboa e a 120km de Cascais.
    O balneário no Centro de Portugal (visitportugal.com) é vizinho de Óbidos, uma das cidades históricas mais bem preservadas do país, a apenas 23km de distância da praia. Um pouco mais longe está Sintra, com os palacetes onde boa parte da elite do país se refugiou nos últimos séculos, como o Palácio Nacional de Sintra, o Palácio Nacional da Pena e a Quinta da Regaleira. Perto dali, no mesmo dia de passeio, é possível visitar o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa.
    Mas não é preciso sair de Peniche para encontrar boas atrações. Como o Forte de Peniche, do século XVII. Ao norte do centro da cidade está a Ilha do Baleal, que na verdade é ligada ao continente por uma faixa de areia, com clima de vila de pescadores. Se puder, fique até o pôr do sol. Outra atração é o arquipélago das Berlengas, uma reserva natural marinha a 30 minutos de barco de Peniche. Lá, não deixe de visitar o impressionante Forte São João Baptista.
    E quem visita Peniche não pode ir embora sem provar o doce típico da região, o amigo de Peniche, um pastel de farinha, açúcar, ovos e amêndoas. O nome vem de uma expressão portuguesa, equivalente ao brasileiro “amigo da onça”. O termo data do século XVI, época da crise de sucessão da coroa lusitana. Cercados por forças espanholas no Castelo de São Jorge, em Lisboa, portugueses esperavam pela ajuda de soldados ingleses, que desembarcaram perto da costa. “O que passou com os nossos amigos de Peniche?”, perguntavam os resistentes à espera do reforço que nunca chegou. Ao contrário das ondas domadas por Filipe Toledo.

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