11.27.2015

Microcefalia: especialista tira dúvidas sobre relação da doença com o zika vírus

O médico Edimilson Migowski, que participou do 'É de casa', responde a questões enviadas por internautas
Médico explica microcefalia no É de casa (Foto: TV Globo) 
Médico explica microcefalia  (Foto: TV Globo)
O médico infectologista Edimilson Migowski esteve no É de Casa, dia 21, para explicar o que é a  microcefalia e o que a doença tem a ver com os casos de zika vírus espalhados por todo o Brasil.
A doença tem gerado tanto debate que selecionamos algumas dúvidas dos internautas para que o infectologista esclarecesse questões sobre o assunto.
Confira as respostas do especialista e descubra mais informações:
Rafaela Lara: "É possível dar normal no ultrassom do segundo trimestre e, depois, ser identificada a microcefalia?"
"É preciso lembrar que a microcefalia tem relação com tempo de gestação e idade da criança. Aos três meses de gestação, o perímetro cefálico é diferente do de seis meses e de nove meses. Naturalmente, o perímetro cefálico, ou seja, o crânio, se desenvolve e vai aumentando. Por exemplo, se o problema ocorrer no quarto mês de gestação e a gestante fizer um ultrassom nesse período, o exame pode dar normal. Mas pode acontecer um comprometimento do desenvolvimento do sistema nervoso central a desse momento. Ao repetir o exame no oitavo mês, aí sim, será possível identificar o problema: o crescimento do perímetro cefálico fora do esperado para o desenvolvimento do bebê. Portanto, é possível que o ultrassom dê normal no segundo trimestre e, num exame realizado mais adiante, ser identificada a microcefalia. A diferença é que a microcefalia não será tão expressiva e impactante quanto a que já se instalou desde o primeiro trimestre de gestação." 


Mário Victor: "A microcefalia pode ser descoberta durante a gravidez através da ecografia ou somente após o nascimento?"
"A microcefalia pode ser descoberta durante a gravidez. Já a causa da doença acaba sendo mais fácil de descobrir após o nascimento do bebê. Geralmente, ela só é descoberta depois. Às vezes, nem é possível identificar como a doença foi contraída."


Patricia Esquitni: "Estou grávida de nove semanas e moro em São Paulo. Gostaria de saber se corro algum risco de passar microcefalia para o meu bebê."
"Na verdade, a mãe não passa a microcefalia para o bebê. A mãe pode passar o zika vírus, assim como se passa o vírus da rubéola, etc. Se esse vírus atacar a criança, isso pode impedir o perfeito desenvolvimento do sistema nervoso central dela, causando a microcefalia. Se você está com nove semanas de gestação, ainda está numa fase crítica. É muito importante que você evite contato com mosquitos, principalmente com o Aedes Aegypt. Quanto mais avançada está a gestação, menor é a probabilidade de um bebê ter problemas de desenvolvimento, como a microcefalia."


Ana Paula Coura: "Em outros países há correlação entre o zika vírus e a microcefalia?"
"Não, a literatura a sobre isso é bem escassa. Existe relação do zika vírus com alguns problemas neurológicos, mas não com a microcefalia. São relatos recentes. Não se sabe se o vírus se modificou e está causando esse problema no Brasil, um zika vírus mutante, já que ele é um vírus RNA e eles têm maior facilidade de sofrer mutação ou se o zika vírus andou circulando em regiões de forma muito expressiva, sendo pouco provável que adultos estejam ainda suscetíveis a esse vírus. Por exemplo, se a mulher já teve o zika vírus quando criança, ela não terá novamente. É parecido com o que acontece com a rubéola: se você já teve a doença, não terá novamente, o que acaba com as chances de existir uma rubéola congênita. Não se sabe se esse tipo de problema é porque a notificação não é tão boa nos países africanos, se houve a mutação do vírus ou ainda se é o mesmo vírus que circula lá e atingiu basicamente crianças. Como não engravidam, é pouco provável que tenha problemas desse tipo em uma população adulta já protegida. A tendência é essa: assim que o zika vírus se tornar uma questão nacional, um problema endêmico, vai afetar somente crianças, aí a microcefalia vai deixar de ser algo detectado porque, uma vez infectadas na infância, não vão adoecer novamente na vida adulta."  


Fa Choeri: "Não precisamos urgente de uma vacina para combater essas doenças (microcefalia, dengue, etc)?"
"A vacina para a dengue é algo para acontecer num futuro muito próximo, provavelmente para o primeiro semestre de 2016. Para o zika vírus ainda não existe. O zika vírus era tido como uma doença extremamente benigna. Esse comportamento de causar microcefalia é que atribui um poder de morbidade maior, uma doença mais impactante. Acredito que a partir de agora vai ser alvo de pesquisas para se desenvolver uma vacina segura e eficaz. Porém, em menos de cinco anos, é difícil que exista uma vacina para a doença por conta do tempo mínimo do desenvolvimento de vacinas."


Dani Oliver: "O que me deixa muito receosa é a falta de informações precisas. Estou grávida de nove semanas e tenho usado repelente. Precisamos cada vez mais que os veículos de informação abordem o assunto de forma séria e esclarecedora."
"Com nove semanas de gestação, o uso de repelente é interessante. É importante utilizá-lo de forma comedida, já que as pessoas não têm dados de segurança desse produto. O ideal é utilizar o produto que o seu obstetra lhe indicar. É fundamental combater todo e qualquer criadouro do mosquito. É bom lembrar que 90% dos criadouros do Aedes Aegypt se encontram nas casas das pessoas. Se todos fizerem a sua parte, a tendência é diminuir a população do mosquito e minimizar o risco de adoecer pelas doenças transmitidas por ele."


Luiza: "Minha filha tem três anos e seis meses, mas quando nasceu a medida do perímetro cefálico foi 33cm. Ela nasceu bem pequena, com 2,470kg e 43 cm, e normal conforme exames pós-nascimento. A microcefalia pode ser identificada durante a gestação?"

"O problema pode ser detectado durante a gestação. Um ultrassom morfológico dá informações precisas sobre isso e o acompanhamento da criança também. Às vezes, uma criança que nasceu prematura e com baixo peso, tem o perímetro cefálico pode ser um pouco menor, mas não quer dizer que isso seja um problema. O perímetro cefálico médio normal é 33 cm. É importante que o pediatra, nas consultas de puericultura, meça o perímetro cefálico e o compare em gráficos para comprovar que o ganho está dentro do esperado. Um perímetro cefálico muito acima ou muito abaixo do normal pode traduzir enfermidade. O ideal é que você consulte sempre o seu pediatra para acompanhar a saúde da criança."

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