6.11.2016

Dilma: 'Meu maior erro foi ter feito uma aliança com quem não devia'






 
  © Ueslei Marcelino / Reuters A presidenta Dilma Rousseff (PT) foi incisiva em sua crítica ao presidente interino Michel Temer (PMDB) durante entrevista à jornalista Mariana Godoy, veiculada na última sexta-feira (10), pela Rede TV: "Meu maior erro foi ter feito uma aliança com quem não devia".
Rousseff também falou sobre Eduardo Cunha, atualmente julgado pela Comissão de Ética e afastado da cadeira de presidente da Câmara dos Deputados:
"Eu não acredito nessa grandeza maléfica do senhor Eduardo Cunha. Eduardo Cunha é de direita, conservador e acho que ele não tem princípios éticos muito sólidos. Eu me recuso a olhar o ser humano e achar que uns são muito bons e outros muito maus, não é essa a questão."
Questionada sobre as investigações de Cunha, a presidente afastada diz "não ser juiz":
"Eu não gosto de condenar ninguém porque eu não faço papel de juiz, mas que se cumpra rigorosamente a pauta, e que as manipulações parem e sejam interrompidas, e que ele [Cunha] responda na justiça pelas contas na Suíça e pelo fato de ele ter negado que ele tinha contas na Suíça."
Para ela, o processo de impeachment instaurado em abril e que atualmente tramita no Senado é um "golpe de estado":
"A lei [de impeachment] é inadequada para o momento atual. O processo de impeachment está previsto na Constituição, mas com crime de responsabilidade. É um absurdo eu ter sido afastada sem se avaliar o mérito. Absurdo o presidente interino e provisório ter desmantelado o Estado. Não dá para acabar com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O futuro do nosso país depende da ciência, da tecnologia e da inovação. Não dá para misturar o Ministério das Comunicações com o Ministério da Ciência e da Tecnologia "
Na entrevista, Dilma afirmou que o processo de impeachment "foi aceito por um claro desvio de poder, e esse desvio de poder está confirmado pela gravação, principalmente com o senador Romero Jucá. É textual: vamos mudar o governo".
A fala de Jucá foi interpretada como uma tentativa de silenciar as investigações da Operação Lava Jato. Ele foi gravado pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, falando que "tem que mudar o governo para estancar essa sangria".
Questionada sobre o uso da palavra golpe, não admitida pela oposição, Rousseff insistiu:
"Dizem que não é golpe porque as instituições estão funcionando. Há hoje, no mundo, uma outra compreensão a respeito dos tipos de golpe existentes. O golpe militar afastava o presidente, mas ao mesmo tempo destruía o regime democrático, acabava com o direito de imprensa, acabava com a liberdade de opinião. O golpe no momento atual usa de outro método, ele quebra a legalidade, quebra a Constituição, e tenta manter o regime democrático (…) Eu irei até as últimas consequências para defender não o meu mandato, mas sim as instituições."
"Se a gente não tiver clareza de que é golpe, a gente não tem condições de combater."
A jornalista Mariana Godoy perguntou qual reforma política a presidente afastada vai propor caso passe pelo processo de impeachment:
"É imprescindível que o meu mandato seja restabelecido, mas eu não acho que só isso resolve as questões. Acho que o Brasil vai ter de repactuar."
"Eu não abro mão do retorno, do fim desse processo fraudulento de impeachment, porque os seis decretos não foram feitos para me beneficiar."
Dilma também criticou alguns ministros do STF que "falam fora dos autos" e que têm entendimentos sobre vazamento de investigações que variam de acordo com quem é a figura a ser exposta. Ela enfatizou que vazar áudio de um presidente da República em exercício é crime em qualquer parte do mundo: "tem certos tipos de vazamento que tem um único sentido, acabar com a imagem da pessoa".
Ela afirmou que "vazam informações a meu respeito e elas nunca são provadas".
Na entrevista Rousseff também abordou os atos de corrupção desvelados pela Lava Jato, e defendeu a linha de governo do PT na presidência da República.
"Houve corrupção. Não é privilégio da direita ou do centro ser corrupta e a esquerda não é uma santa. Acho que nos meus governos e do presidente Lula nós tivemos um cuidado, nós estruturamos através de leis, normas e práticas um processo de tornar o Brasil mais transparente (exemplo o Portal da Transparência) , de combater as organizações criminosas (a lei de 2013 em que está prevista a delação premiada) e a lista tríplice para o Ministério Público Federal".
Dilma disse que está "tranquila" e que irá "lutar para voltar".
A entrevista está disponível na íntegra aqui.
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